45 anos de Star Trek

No dia 8 de setembro de 1966, ia ao ar na NBC, na televisão norte-americana, o episódio O Sal da Terra (The Man Trap), estreia da série Jornada nas Estrelas (Star Trek), que se tornaria uma das mais longevas franquias de ficção científica, indo audaciosamente a seguidas séries e temporadas de TV, filmes, livros, quadrinhos e tanta parafernália de merchandising (brinquedos, roupas e acessórios úteis ou inúteis) a que talvez só Guerra nas Estrelas (Star Wars) se equipare ou, quiçá, supere.

A premissa da série idealizada por Gene Roddenberry era levar a um futuro utópico histórias de aventura, suspense e drama, tudo em torno de uma elaborada e inteligente ficção científica, o que se traduz em “explorar novos mundos estranhos, procurar novas formas de vida e novas civilizações”. Inicialmente, tal premissa foi desenvolvida através de três temporadas mais ou menos bem-sucedidas. Personagens marcantes como Capitão James T. Kirk, Sr. Spock e Dr. Leonard McCoy encenariam enredos repletos de surpresas e reviravoltas.

O Sal da Terra (The Man Trap)
O antagonista do primeiro episódio de Star Trek, “O Sal da Terra” (The Man Trap)

Digo “mais ou menos bem-sucedidas” porque o fiel público que admirava Jornada nas Estrelas só foi descoberto anos depois da série ter sido cancelada. Esse público ajudou a motivar os produtores a ressucitar as aventuras da tripulação da Enterprise numa sequência de longas-metragens (hoje, são ao todo 11 filmes) e depois numa série chamada Jornada nas Estrelas: A Nova Geração (Star Trek: The Next Generation). Outras três séries se seguiram, Deep Space Nine, Voyager e Enterprise, com novos personagens e com um complexo desenvolvimento desse universo ficcional.

Jornada nas Estrelas se tornou um objeto de adoração de uma multidão de fãs ao redor do mundo. As raças exóticas, os personagens pitorescos com seus bordões, os gadgets de uma tecnologia que facilitaria a vida de muita gente… muita gente se encantou, algumas vezes de modo exagerado (como acontece com qualquer produto da cultura), e tentou trazer a estética de Jornada nas Estrelas para suas vidas, seja com roupas ou com adornos para o ambiente doméstico se parecer com o cenário futurista dos séculos XIII e XIV.

Uhura e Kirk
Primeiro beijo “inter-racial” da televisão norte-americana

Por outro lado, os vislumbres de um futuro em que o progresso científico traria grandes avanços e desafios para a humanidade inspirou muitos jovens a se dedicar à Ciência, levando uma safra sonhadora a ingressar na NASA ou seguir carreiras acadêmicas nas Ciências Exatas, Naturais ou Humanas.

Para além dessas influências pessoais, Jornada nas Estrelas construiu um arcabouço de histórias muito variadas, tanto nos temas e nas narrativas quanto nas abordagens filosóficas, éticas, morais, políticas e sociais. Às vezes trazendo uma visão libertária a respeito da alteridade, outras vezes “sem querer” enaltecendo valores específicos da cultura norte-americana, Jornada formou um repertório impregnado de novas ideias e questionamentos para a humanidade.

Jornada nas Estrelas, enfim, representou um marco na história da televisão, colocando personagens de diversas etnias e nacionalidades juntos na mesma ponte de comando, contrariando os sentimentos antissoviéticos da época, bem como a beligerância dos EUA na Guerra do Vietnã.

Além disso, ousou colocar uma mulher negra em posição de destaque na tripulação, cuja permanência na série só foi possível pela intervenção de Martin Luther King, que entendia que Nichelle Nichols era uma inspiração para as jovens e os jovens negros oprimidos pelo racismo. Sua personagem, Uhura, também encenou um dos mais importantes beijos da TV norte-americana, o primeiro a envolver um homem branco e uma mulher negra, rompendo simbolicamente com o apartheid racial do país. Um singelo gesto que resume o significado dessa série que continua indo aonde ninguém jamais esteve.

3 comments

  • Bravo, 'Trekker' absoluto! Ótimo texto sobre uma série com tanta devoção por parte de tantos… Gosto muito dos personagens e da mitologia, embora tenha acompanhado mais os filmes do cinema do que os mil e um seriados derivados desta célebre época original!

    Curiosa coincidência: São Luís faz aniversário neste 8 de setembro – embora não haja tanto assim para comemorar… Abração! E vida longa e próspera!

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