Babies – Resenha

Babies (2010), filme dirigido por Thomas Balmès, é um documentário que testemunha, sem narração, o 1º ano de vida de quatro pequenos seres humanos, cada um de uma parte distinta da Terra. Ponijao é um menino namibiano, Mari é uma menina japonesa, Bayar é um menino mongólico e Hattie é uma menina norte-americana.

Acompanhamos diversos momentos da vida das pequenas crianças, desde o nascimento, passando pelas primeiras palavras até os primeiros passos. Os quatro bebês comovem o espectador, como é comum com adultos contemplando infantes dessa tamanho e idade. O cineasta escolhe momentos pitorescos e os encaixa com cenas que mostram especificidades culturais, de hábitos e costumes.

Spoilers: Esta resenha contém revelações sobre a obra. Se você ainda não a viu e não quer estragar a surpresa, pare agora a leitura.

BabiesTítulo: Babies

Diretor: Thomas Balmès

País: França

Ano: 2010

A câmera do europeu adulto

A presença dos pais e de outros coadjuvantes é sempre notada, mas os ângulos das câmeras privilegiam a ação dos pequeninos em sua aventura de descoberta do mundo. Essa abordagem nos aproxima da experiência dos bebês e da vivência dos cuidados dos pais.

Como o filme é dirigido por um ocidental, percebe-se que o documentário tem um viés voltado para o registro da alteridade. Dessa forma, a pequena Hattie tem pouco destaque, enquanto Ponijao e Bayar parecem brilhar mais. Isso parece ter a ver com o fato de serem os mais “estranhos” para a câmera de Balmès, com costumes e ambientes mais exóticos para os olhos de um europeu.

Entretanto, pode ser que essa tenha sido a minha impressão enquanto compartilhando, ou seja, a vida da bebê norte-americana não era muita novidade para mim, acostumado com hábitos um pouco parecidos na sociedade em que vivo e conhecendo um pouco da vida norte-americana através da mídia.

Diferenças e semelhanças

As situações díspares a que assistimos durante o filme nos mostram a diversidade de condições em que os seres humanos podem se criar e viver, sem deixar de se constituírem como plenas criaturas da mesma espécie.

Se, por um lado, ao bebê namibiano é permitido engatinhar na terra nua e brincar com ossos de animais, por outro, a menina norte-americana é cercada de cuidadosa obsessão com a higiene esterilizadora. Os ambientes em que vivem, respectivamente, Bayar e Mari são bem diferentes também. O menino mongólico está o tempo todo rodeado de animais domésticos e em constante contato com bois, cabras, gatos e galinhas, enquanto o cenário em que vive a japonesinha é completamente urbano (os únicos animais, além do gato doméstico, com que tem contato estão atrás das janelas de vidro do zoológico).

De modo geral, a obra nos mostra quão semelhantes são os seres humanos, independentemente da cultura e das superficiais características físicas. Vemos todos os bebês rindo, chorando e com medo. Cada um deles busca com curiosidade conhecer o mundo ao seu redor, os objetos e os animais. Cada um, em seu tempo, aprende a balbuciar e imitar a fala dos adultos. Todos eles experimentam os primeiros passos e as primeiras quedas.

Ao mesmo tempo, vemos como são diversas as culturas humanas. As mães e pais têm técnicas e modos diferentes de lidar com os mesmos problemas. A mãe namibiana limpa os olhos de seu bebê com a língua, enquanto a mãe mongólica lava os do seu com o leite do próprio seio. As diferenças entre o ambiente urbano (Japão e EUA) o rural (Mongólia e Namíbia) implica em uma socialização diferente também. Na cidade, o contato familiar quase se restringe ao convívio com os pais (os dois bebês urbanos são filhos únicos) e com adultos que fazem parte do círculo de amizades dos pais ou de grupos dos quais estes participam. Já as crianças do mundo rural têm relação mais próxima com a família extensa, irmãos, primos, tios e avós.

Desde muito cedo em sua vida, o ser humano está rodeado de estímulos, imerso nos hábitos e costumes dos adultos. Isso nos ajuda a perceber o processo pelo qual uma cultura fica tão entranhada no indivíduo, acostumado com os padrões de comportamento que presencia e replicador desse mesmo modo de viver e ver o mundo.

Mas ficamos com o registro de quatro mundos diferentes, sem comunicação entre si. Embora tenha sido uma proposta válida em si mesma, seria muito interessante que Balmès, talvez posteriormente, promovesse um encontro com os quatro pequenos astros e enriquecesse a experiência, mostrando a estranheza que cada um demonstraria diante de seus companheiros de enredo.

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19 comments

  • é um filmim fofo. desses de deixar as meninas OWWNN a cada 2 minutos, mas aquele africanozinho me dava um nervoso inacreditável toda vez que entrava em cena, cara, comendo pedra ou lambendo a língua do cachorro, meu deus! Eu acho que eu morreria em 2 dias naquele ambiente, pq aquele povo tá imune à tudo, penso. Aquele mongolzinho me fazia vibrar toda vez que aparecia escalando alguma coisa ou abraçando um bezerro: esse é dos meus!

  • @dyego,

    Ponijao (o africano) vive numa cultura com uma noção muito diferente de higiene que a nossa. Desde cedo eles devem desenvolver imunidades a diversas coisas que nós consideramos pejudiciais à saúde.

    Mas se olharmos para nossa própria cultura, vemos que há pais que deixam os filhos pequenos brincar na areia justamente para que eles fortaleçam as defesas. Afinal, muitas das imunidades que desenvolvemos vêm do fato de termos tido certas doenças, que obrigaram o corpo a produzir anticorpos.

    Quanto a Bayar (o mongólico), gostei principalmente da cena final (que ilustra este post).

  • a ausência de narrativa direta faz cada um dos movimentos daqueles mini-humanos atingir diretamente a comoção. por exemplo, Ponijao e o irmão brincando com aquela pedra fica na memória mesmo, sem sair. aliás, era uma briga? aquilo mostra a natureza competitiva nossa? e aquele bode entrando na bacia enquanto aquele outro mini-humano tomava banho? 😀

  • lindo o filme, espetacular. Agora aqui tem pessoas que realmente não sabe apreciar a cultura do outro, fazemos coisas tão absurdas quanto o Ponjão em suas aventuras.

  • me encantou assistir esse filme,principalmente porque vi minha infância retratada nele,não precisamos ir a outro pais para ver outras culturas,basta apenas sair do nosso entorno e visitar qualquer interiorzinho do nosso nordeste,ali na zona rural muitas crianças vivem como esses bebês namibianos e mongólico e isso não é nada anormal,nem coisas de outro mundo.O mais importante é que são felizes cada um em seu habitat natural!

  • Bonito e oportunidade interessante de se analisar comportamentos, hábitos, etc mas é repleto de estereótipos. E faltou um bebe brasileiro (ou representativo da America Latina), como será seria no meio destes, ehheheh.

  • ssistir o documentário Babies (2010), identificar, descrever e justificar pelo menos um aspecto
    do desenvolvimento apresentado no vídeo comum à todas 4 crianças e pelo menos mais um que
    parece ser distinto à cada um deles. Considere os domínios que influenciam nosso
    desenvolvimento.

  • Adoro este filme, por um lado dá para explorar as semelhanças no desenvolvimento das crianças, como já foi referido em cima, mas também as influências no desenvolvimento da criança.

    Algo que me chocou e que eu desconhecia é a situação da criança da Mongólia no início do seu desenvolvimento, enrolada e fechada naquele "cobertor". As pernas sempre presas… chocou-me…

  • Acredito que o fato de a criança da mongólia ao nascer e ser enrolada em um cobertor com as pernas amarradas, tenha ajudado no momento de transição do engatinhamento para os primeiros passos e ainda mais, possibilitando o equilibrio em superfícies mais altas em comparação com os demais.

  • Acho que deveriam fazer o Babies 2 – as crianças agora com outras idades… ou, e se reunissem os 4 em um ambiente só? Outras experiencias incríveis!

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