Emo vs. “nordestino cabra macho”

No dia 21 de junho de 2009 e.c., Carlos Cardoso, conhecido blogueiro (ou bloguista, no vocabulário dele) brasileiro e usuário do Twitter com mais de 7.000 seguidores, comentou no próprio Twitter, enquanto assistia ao programa televisivo Pânico na TV, que noticiou o festival Mossoró Cidade Junina, que achava engraçado haver emos em Mossoró (uma das principais cidades potiguares).

Não vi o programa, mas imagino que o Pânico deva ter filmado algum emo no festival. Eu, usuário do Twitter com mais de 80 seguidores, não entendi bem a graça de haver emos em Mossoró. Imaginei, preconceituosamente, que Cardoso talvez pensasse que uma identidade urbana, adolescente e tribal comum às grandes cidades não deveria existir numa cidade “nordestina”.

Comentário de Cardoso sobre emos em Mossotó

Mas, para ser o menos preconceituoso possível, resolvi perguntar a ele o que era tão engraçado, sem antecipar uma resposta. Ele então respondeu que o emo “é a antítese da imagem do nordestino cabra macho”. Não havia me dado conta dessa possibilidade. Realmente, existe um estereótipo do “nordestino cabra macho”. Então pensei, “que preconceituoso!” Mas procurei entender. Afinal, ele está deixando (um tanto) explícito que reconhece que tem preconceitos.

Pergunta a Cardoso sobre emos em Mossoró

Resposta de Cardoso sobre a imagem do "nordestino cabra macho"

Mas resolvi rerresponder. Disse-lhe que no Nordeste, ou melhor, no Rio Grande do Norte, essa imagem do “nordestino cabra macho” é manos forte do que fora do Nordeste (ou do Rio Grande do Norte). De fato, em quase todos os lugares onde há seres humanos, há ainda uma imagem do macho ideal local. Aqui no Rio Grande do Norte, no entanto, não há uma representação de um tipo especial de “macho nordestino”, não mais do que as representações de “macho” em quaisquer regiões do país.

Rerresposta a Cardoso sobre o "nordestino cabra macho"

Cardoso expressou um preconceito comum ao Sudeste-Sul do Brasil quanto ao Nordeste. Há, de fato, desde há muito tempo, um estereótipo do “nordestino” como bruto e másculo. Essa imagem foi perpetuada por Euclides da Cunha em Os Sertões, onde ele descreve o sertanejo, e é motivo de muita caricatura em obras de ficção, piadas e propagandas.

Nordeste primitivo

Entretanto, não é só isso. Há também um estereótipo do Nordeste como um lugar atrasado, econômica e socialmente, e mantenedor de tradições coloniais. Ora, ao pensar no homem nordestino (e às vezes também a mulher) como “cabra macho”, o que denota não somente uma identidade masculina mas também um sujeito machista, o discurso que caracteriza o Nordeste como atrasado também está dizendo que os homens nordestinos não acompanharam a evolução de costumes que aos poucos abandona a mentalidade androcêntrica e dá mais espaço às mulheres.

Portanto, o que eu havia pensado inicialmente, sobre o preconceito expresso no discurso de Cardoso estar relacionado ao suposto atraso e primitividade do Nordeste não estava totalmente equivocado. Ao contrapor a imagem do emo potiguar à imagem estereotipada do “nordestino cabra macho”, ele demonstrou uma surpresa típica à da mentalidade que espera que uma certa etnia ou um certo tipo regional aja de uma certa forma, consagrada pela estereotipia.

Porém, não vou me aventurar a afirmar que Cardoso foi deliberadamente preconceituoso, até porque acho bem provável que ele nem tenha se dado conta disso. Se ele se deu conta, o que é possível, provavelmente reconheceu isso, e a forma como abordou o tema no Twitter demonstra implicitamente que ele sabia disso e não estava tentando reforçar os preconceitos intrínsecos à sua formação cultural. Como eu mesmo o fiz no início deste texto, ele parece ter reconhecido o preconceito e não tentou negá-lo, o que teria sido pior.

Essa forma de ver o Nordeste, como primitivo, machista e tradicionalista, pode ser comparada à forma como muitos europeus veem o Brasil, herança das empresas colonizadoras dos séculos XV-XVI. Para os viajantes que deixaram relatos das expedições, a América quase sempre era vista como um lugar mais próximo à natureza, menos civilizado e, portanto, menos humano. Tanto a imagem do Inferno Verde quanto a do Paraíso Idílico eram duas formas opostas de dizer a mesma coisa: a América é primitiva.

O discurso colonizador

No livro Orientalismo, de Edward W. Said, o escritor palestino-americano discorre sobre a representação do Oriente, elaborada no Ocidente europeu e também desenvolvida nos EUA, como um lugar atrasado econômica, social e culturalmente, repleto de riquezas naturais a ser exploradas pelo colonizador ocidental e cheio de homens bestiais e mulheres lascivas. Aí também vemos a mesma lógica: o colonizador civilizado vê o colonizado como primitivo e se vê com o direito de dizer quem ele é. Até hoje o Ocidente se arroga saber mais sobre o Oriente do que este sobre si mesmo.

Essa imposição de uma imagem paralisada no tempo, veiculada mais por agentes externos do que pelos próprios nativos, também é comum dentro do Braisil, em que pessoas de fora do Nordeste (ou, ao menos, do Rio Grande do Norte) imaginam uma certa essência nordestina que deveria, num mundo ideal, ser preservada. Se não for assim, os nordestinos estariam traindo quem realmente são.

É interessante notar que, após ter feito aquelas observações sobre os emos e os nordestinos cabras machos, Cardoso criticou o fato de que em Mossoró a festa junina perdeu as características “tradicionais”.

Comentário de Cardoso sobre festa junina em Mossoró

Resposta de Leonardo Moreira sobre São João em João Pessoa

Resposta de Cardoso sobre São João na periferia de Mossosó

Eis o discurso do colonizador. O que ele diz é que os mossoroenses estão fazendo tudo errado, estão esquecendo quem realmente são e se subjugando às influências externas. Mesmo que Mossoró seja um ambiente urbano moderno, com inevitáveis influências das manifestações culturais mundializadas, o discurso colonizador diz que esses nordestinos devem continuar aquilo que seus avós faziam: comemorar o verdadeiro São João.

Mas é claro que eu não perco de vista que o discurso colonizador não é carregado apenas pelo sujeito dominante dessa relação. O sujeito dominado também é agente desse discurso. Ora, vemos acima que um paraibano faz a mesma queixa, apontando sua cidade natal como terra de nordestinos fiéis às suas tradições e lamentando que Mossoró tenha se rendido à degeneração dos costumes.

Outro paradoxo é que, muitas vezes, o discurso colonizador, que supostamente pretende conceder civilização aos povos primitivos, é quem mais reforça a necessidade de os nativos manterem suas tradições.

O Nordeste girou junto com a Terra

Mas o Nordeste não se cristalizou. As cidades que crescem estrutural e economicamente vão se tornando cada vez mais representantes de um modelo mundial. Mossoró não é mais um ambiente rural em que homens e mulheres sofrem sob as condições climáticas de um dia árduo de labuta na roça, dividindo as tarefas segundo os sexos e perpetuando uma relação machista entre estes. Ainda há o “cabra macho” em ambiente rurais do Nordeste, como há algo muito parecido em ambientes rurais do Sudeste, do Sul, do Centro-oeste e do Norte.

Não pretendo acusar Cardoso de ser preconceituoso, de ser um sudoestista arrogante que quer saber mais sobre o Nordeste do que este sobre si mesmo. Mas há certas coisas que fazemos sem querer, que aprendemos a fazer sem disso nos darmos conta. Acho que o papel do pensamento crítico é analisar/desconstruir os discursos enraizados em nós e reconstruir uma forma de pensar mais flexível e mais universalista.

Eu mesmo tenho que reconhecer o perigo que corro ao deixar implícito que não tem graça haver emos em Mossoró. Afinal, estou falando de Natal, no mesmo estado em que se localiza aquela cidade, e pode parecer que estou defendendo alguma destas coisas:

  1. Que não gosto da ideia de haver emos no Rio Grande do Norte, e portanto não acho graça nenhuma nisso, preferindo que eles permanecessem no lugar onde surgiram;
  2. Que gosto de emos e os defendo, e por isso não acho graça nenhuma que alguém critique o fato de um nordestino querer sem emo.

A verdade é que não gosto de emos em particular. Nem desgosto de alguém por ser emo. Eu não sou emo, mas isso não faz com que ser emo se torne um impedimento para eu me dar bem com qualquer rapaz ou homem ou moça ou mulher (atualmente, já há pessoas do sexo feminino que se consideram emos). O fato de eu não querer ser emo e até não gostar da estética emo não deve ser um motivo para eu desprezar ou detestar alguém que goste de e que vista essa estética.

Também não gosto do “nordestino cabra macho”, de duas formas. Considero que essa figura é um tipo ele mesmo preconceituoso e conservador. Mas não faria inimizade com alguém que assume essa identidade (apesar do que eu disse até agora, existem os que a assumem). Também não gosto dessa imagem como estereótipo que generaliza a visão dos não-nordestinos sobre quem são aqueles que nascem em qualquer lugar da denominada Região Nordeste, por motivos que devem ter ficado claros anteriormente.

A respeito das tradições, também devo me posicionar. Não sou contra a manutenção das festas juninas em moldes mais ou menos parecidos com o que vem sendo feito desde que elas se consolidaram. Não sou contra a manutenção das quadrilhas na forma como se consolidou por influêcia dos franceses. Se há quem queira mantê-las, que o faça. Se há quem queira mudar, qual é o problema? Não há certo e errado aí a não ser para uma mente apegada aos míticos “bons e velhos tempos”.

Da mesma forma que o São João não existe desde o surgimento do Universo, e não existe da mesma forma no decorrer da história humana, ele vai continuar mudando e possivelmente vai deixar de existir um dia. E eu serei alvejaddo por atitudes conservadoras que defenderão uma certa necessidade natural de “cada povo ser fiel a si mesmo”.

Para mim, budisticamente, o melhor é ir abandonando os apegos a tradições e aos “velhos modos de fazer as coisas”, prccurando se ver como um habitante do Cosmos e não como uma planta enraizada a um pedaço de terra. Considero que é uma ilusão pensar que se pode preservar tradições intactamente ou que haja uma razão óbvia para fazê-lo. Mas defendo a liberdade de qualquer um que opte por preservar suas tradições.

Emo vs. “nordestino cabra macho”

Por último, gostaria de elocubrar sobre a suposta antítese entre o emo e o “nordestino cabra macho”. Essa oposição pressupõe que os emos não são machos ou que são menos masculinos do que o “homem sertanejo”, o homem bruto e árido das paragens brutas e áridas do sertão.

Mas a masculinidade é um conceito flexível. Se para um cavalheiro inglês sua honra masculina deve ser defendida através da manutenção de um decoro inquebrantável e talvez de palavras inteligentemente escolhidas num debate, para um cangaceiro a desonra era não resolver seus problemas com um facão ou com uma ou mais balas de espingarda. Se para um judoca ser homem é ter paciência diante do rival, para um jogador de rúgbi é se jogar violentamente sobre o adversário.

Na realidade, qualquer coisa pode ser escolhida como representante da masculinidade. Cada sociedade tem suas próprias representações do que é feminino e do que é masculino, e há muito pouca coisa em comum entre todas elas. A masculinidade não é um dado óbvio da natureza, mas uma criação, e pode ser recriada pelos indivíduos, embora, é claro, os valores sociais se imponham sobre os indivíduos. Mas tipos diversos de masculinidade podem ser criados e acabam se consolidando como opções.

Temos uma forma de pensar na masculinidade como uma disposição contrária à feminilidade. Um homem, para nossos padrões ocidentais, não usa maquiagem, tem um jeito de se mover e se expressar mais seco, sem movimentos suaves e com uma certa imponência, esconde ou camufla os sentimentos de tristeza e carinho e se veste de forma a esconder certas partes do corpo, notadamente o tórax, os quadris e a parte superior dos braços.

Para esses mesmos padrões, quem usa maquiagem, quem se move e se expressa suavemente e com mais graça, demonstra mais suas angústias e afetos pessoais e se permite mostrar a barriga e os ombros são as mulheres. Portanto, um emo, que faz todas essas coisas, seria menos macho do que um homem “normal”.

Mas há valores mais fundamentais em nossas representações do masculino. Há traços de personalidade que reconhecemos como próprios dos homens. A coragem é um deles. A capacidade de defender uma pessoa em perigo, especialmente uma pessoa frágil, uma mulher, uma criança ou um idoso, também é visto como própria do verdaeiro homem. Fazer aquilo que se tem vontade, sem hesitar diante da opinião dos outros, é talvez uma das  mais masculinas das características. E tanto é assim que, quando uma mulher assume um desses aspectos, dizemos que “Fulana é homem”.

Ora, um jovem emo pode ter todas essas qualidades. Ele pode até chorar por causa de um amor não-correspondido, mas, se ele protege seus entes queridos, poderia ser considerado macho. Se ele tem coragem de ser quem ele gosta de ser, sem hesitar aparecer em público  quebrando todos os padrões estéticos esperados de um jovem portador de um pênis e possuidor de um cromossomo Y, ele poderia ser considerado homem no sentido mais fundamental.

Porém, acima de tudo isso, um emo pode ser macho simplesmente se ele se considerar assim. Se um emo ou um grupo de emos se considera macho por alguma razão diferente de qualquer uma das que apontei acima, não há nada mais legítimo. Para mim não há razão alguma para defender que há uma forma correta de ser macho e, pessoalmente, pouco me importa se alguém se considera uma coisa ou qualquer outra.

Afinal, vivemos em uma sociedade com valores neoliberais que permitem que qualquer um assuma a identidade que quiser sem ter que dar satisfação a ninguém. Um emo potiguar pode ser também um “nordestino cabra macho” e, se ele quiser assim, eu não vou discordar. No entanto, talvez eu apoie ainda mais sua liberdade de escolha se para ele for irrelevante a identificação com um ou outro gênero.

15 comments

  • Mas, e aí?
    Nordestino é macho, Mineiro é 'come-quieto', Paulista é 'workaholic', Carioca é malandro, Gaúcho (todos da região Sul) é viado de bombacha… Ah, Goiano é corno…
    O.O

    Vc tb deixou meio q de fora (talvez p outra oportunidade) o fato de existir uma homogeinização do nordeste pelo ponto de vista do sul/sudeste…
    Afinal, colocamos Baianos no mesmo balaio dos Potiguares. E olha, pelo pouco que conheço, são estados bem diferentes… Pelo menos suas capitais.

    Enfim, é uma discussão antiga essa, que deve sim ser ressuscitada de vez em quando, mas tende a não levar a nada.
    Quem dirá eu, visto como paulista pelos mineiros e como mineiro por meus conterrâneos.
    ¬¬

  • thiago,
    este é um ótimo texto e traz uma discussão sempre válida por ser – infelizmente – sempre atual a respeito dos estereótipos criados e dessa sensação de "vira-latismo" (com o perdão do péssimo neologismo) com a qual ainda não sabemos bem como conviver.

    peço permissão para usar seu texto numa discussão com meus alunos.

    abraço!

  • É, @Mr. T, pensei nessa questão dos baianos enquanto escrevia, mas achei que não cabia neste texto. Talvez em outra oportunidade.

    Mas, adiantando um pouco, sabia que já houve no Brasil a Região Leste, da qual a Bahia fazia parte? Até hoje há baianos que não gostam de fazer parte do Nordeste. E eu acho estranho que o mascote das Casas Bahia seja um cangaceiro (porém, como disse minha esposa, deve haver, no sertão da Bahia, pessoas que se vestem daquele jeito…).

    @Theo, quando você diz "vira-latismo", está se referindo a algo como o "complexo de vira-lata"?

    Pode usar à vontade os textos desse blog, eles são Creative Commons (contanto que você cite a fonte e não os use para fins comerciais…).

    Abraços a vocês, meus amigos.

  • Da região Leste eu nunca soube, nem desse "separatismo baiano".
    Q coisa…
    Já presenciei umas discussões boas entre baianos e pernambucanos. bem interessantes, hehehe…

    Te digo, que só depois de ter a chance (e o privilégio) de conhecer pessoas de estados variados do nordeste, é que comecei a identificar os regionalismos específicos. Mas ainda existe um bom número de estados que me confundem…

    Em contrapartida, do Sul, pra mim, é tudo igual. Eles odeiam isso, mas os vejo todos com a mesma cara.
    hehehehehe

  • Tava pensando justamente nisso que o Mr. T disse… cada uma das regiões tem o seu 'esteriótipo' e muitas vezes somos julgados por eles, sem que antes as pessoas conheçam realmente as pessoas de determinada região. Nós percebemos isso de maneira ainda mais clara por vivermos num país muito grande e com gente vindo de todos os cantos. Sobre o discurso colonizador e colonizados tem uim livro que está na fila para a leitura que fala um pouco disso com relação ao empreendedorismo, o nome é "Desafios brasileiros na era dos gigantes".
    Sonre as tradições eu já penso por outro lado, ou talvez não, é claro que as tradições mudam com o tempo, e sofrem influencias vindas de todos os cantos do mundo, não acho que devemos seguir nessa ou naquela tradição(esse é um assunto sério na universidade em que eu estudo em relação a manter as tradições de escolha de moradores para as repúblicas federais, mas isso já é outro assunto que da muito pano pra manga), mesmo porque certas tradições podem não 'ser benéficas' e por ai vai, mas por outro lado acho muito importante conservar determinadas tradições principalmente ligadas a cultura de um povo, afinal de contas muitas vezes elas fizeram parte de nossa criação e podem ter influenciado parte do que somos…
    Bem… acho que já falei demais to ficando confuso
    Ótimo texto Thiago como sempre de parabéns

    Grande abraço

  • acho muito importante conservar determinadas tradições principalmente ligadas a cultura de um povo, afinal de contas muitas vezes elas fizeram parte de nossa criação e podem ter influenciado parte do que somos…

    Pois é, @Samuel, há tradições positivas e há tradições dispensáveis. Mas não acho que o fato de ter influenciado parte do que somos seja uma justificativa legítima. Falo por minha própria experiência que há coisas que aprendemos a ser que seria melhor não ter aprendido.

    Bem-vinda, @menina.

    Eu até ia discorrer sobre os estereótipos femininos do Nordeste, mas acho que dá para fazer um texto inteiro sobre isso. Vem aí "A Dificuldade de se Lidar com Preconceitos Regionais e de Gênero – Episódio 2: Maria Bonita Contra-ataca".

  • Isso é claro, heheh existem muitas e muitas coisas que seria melhor não termos aprendido, mas ainda acho que muitas outras são interessantes, mas bem… ai já entra um outro fator que é complicado, a questão de saber se o que eu acho certo é o que o outro acha certo… outra coisa que da pano pra manga, interessante =D

  • @Flavia, até onde sei, o emo é uma identidade que surgiu na Europa como uma variação do metrossexual, ou seja, como uma identidade masculina. Depois se transformou num estilo que englobou as mulheres. No Brasil, que gosta de importar moda, o estilo já apareceu adotado pelos dois sexos. Eu acho.

    Bem, espero que comente mais (se quiser) quando ler o resto do texto.

    E seja bem-vinda.

  • NADA DE SUPERFICIAL NEM DE EFÊMERO FOI DITO OU ESCRITO SOBRE EMO E SOBRE NOSSA CONDIÇÃO REGIONALISTA NESTE BLOG, PORÉM NÃO REFLITAM SOBRE ESSAS SUPERFICIALIDADES TÃO PROFUNDAMENTE.

  • Thiago, gosto muito desses assuntos que você coloca na categoria antropologia aqui no seu blog. Não entendo nada do assunto mas tenho curiosidade sobre esses temas.

    Essa discussão que você levantou sobre a importância de preservar ou não uma tradição, ou melhor, nem preservar mas relembrar através de alguma data/festa, me trouxe uma reflexão que eu não tinha feito: Sempre achei que seria sim importante "guardar" essas informações culturais que ajudaram a formar o povo de hoje (ou de ontem), e na verdade continuo achando. Acho que isso é o medo de deixar de ser quem eu sou ṕara ser quem algum "dominador cultural" queira que eu seja. Não é mais seguro relutar contra modismos e novidades do que aceitar tudo e refletir depois? Importante mesmo é a flexibilidade de repensar os valores, seja antes ou depois de inseri-los nos costumes sociais. Então, tanto uma sociedade que não se deixa inserir na cultura emo com facilidade, quanto uma que a cada ano se insere em diferentes culturas/modismos, podem ser bem semelhantes, no sentido que elas não irão "evoluir" caso não reflitam sobre esses velhos e novos valores em algum momento tendo a coragem de nega-los/modifica-los caso sejam julgados negativos (exemplo: farra-do-boi).

  • @AmBAr Amarelo e suas provocações… sempre bem-vindas!

    Acho que é importante sim preservarmos a memória das manifestações culturais, que servem de objeto de estudo para entendermos a humanidade. A História e a Antropologia precisam do maior número de registros possíveis para compreender melhor a evolução humana.

    Mas o que eu quis enfatizar é que é inevitável que ocorram mudanças em qualquer lugar do mundo, em alguns lugares mais lentas, em outros mais rápidas. E o discurso que exalta a manutenção dos costumes perde de vista que a própria cultura que ele defende já passou por mudanças, nem sempre foi a mesma, e vai mudar ainda mais. Daqui a 100 anos, o cara que defende uma certa tradição milenar poderá achar que está preservando um costume exatamente como ele era hoje em dia, mas se pudesse ver como é hoje, perceberia que houve transformações.

    Sobre as influências culturais,é preciso dizer duas coisas:

    (1) Não adianta lutar com todas as forças, as influências ocorrem inevitavelmente, e muitas vezes não ocorrem em situações de colonização, mas em contatos culturais igualitários. No processo de colonização, muitos estudos antropológicos mostram que o colonizado não é o único a sofrer influência. O dominador também sofre mudanças culturais por influência do dominado. No processo de imposição, ambos os lados acabam influenciando um ao outro e até produzindo novas configurações culturais, ou seja, novos povos. Além disso, empréstimos muitas vezes ocorrem inadvertidamente e irrefletidamente, e depois que o estrago (ou não) está feito, normalmente é infrutífero tentar contornar a situação.

    (2) Acho que influências são positivas, mas concordo com você quanto à cautela. É preciso ser muito crítico quando nos deparamos com escambos culturais. Nem sempre uma novidade é positiva. Quando for possível, o melhor é refletir sobre a adequação, utilidade e valor daquela novidade. Mas nem sempre é possível prever os benefícios dessas trocas antes de experimentá-las. Além disso, é muito raro que uma novidade seja incorporada de forma intacta. Por exemplo, os quadrinhos ocidentais foram incorporados pelos japoneses e estes o transformaram numa linguagem diferente, o mangá, que tem aspectos bem peculiares e nem são considerados quadrinhos por alguns colecionadores.

  • O tema preconceito contra nordestinos me veio à mente recentemente por certas declarações de colegas no meu ambiente de trabalho, sou baiano e trabalho em SP. Certo dia ao ingressar na secretaria em que trabalho presenciei uma Magistrada falando o seguinte: "… Ô bixin eles cumprem a precatória assim, até levantar da rede…" seguiram-se risos. Fingi não ter ouvido afinal de contas juízes são entidades quase divinas, intocáveis, isso num país dito democrático. Em outra oportunidade um outro Magistrado ao comentar determinado aspecto jurispridencial declarou: " Se um tribunal do NORDESTE tem coragem para aplicar determinado dispositivo legal desta forma, nós, briosos, juízes paulistanos também deveríamos fazê-lo". Não posso comentar com relação aos demais estados do sudeste, mas aqui em SP, existe uma idéia impregnada que o Brasil "anda" graças a SP, essa hiptética autosuficiência os leva a ignorarem completamente a complexidade – no bom sentido – cultural que existe no brasil e a se esquecerem da unidade, que ao meu ver prepondera, mesmo dentro dessa complexidade.

    Abç

    Tauff

  • @Tauff,

    Muito obrigado pela visita.

    O nível de instrução formal muitas vezes não coincide com um nível menor de preconceito. Este é internalizado através de representações cristalizadas. Para muita gente no Sul-Sudeste, a "preguiça" dos baianos e o "atraso" do Nordeste em geral são tão óbvios quanto a cor azul do céu, são verdades tão irretocáveis quanto a divindade dos juízes…

    Certa vez uma amiga de Blumenau contou que viajou com seu tio de caminhão ao Nordeste. Na volta, ao atravessar a fronteira entre a Bahia e Minas Gerais, disse: "Agora entramos no Brasil".

    Esse tipo de preconceito regional ainda é muito presente e virulento, e realmente esconde a relação de dependência mútua (econômica, cultural, social e política) entre as diferentes partes do Brasil.

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