O Rei Leão e o Patriarcado

lion_king_ver1É bem conhecido o viés sexista da maioria das animações dos Estúdios Disney. Via de regra, os protagonistas dos contos de fadas transformados em longas metragens pela empresa se encontram na camisa-de-força dos papéis de gênero. Homens são guerreiros, heróis, príncipes; mulheres são donzelas, damas, princesas. Com louváveis exceções trazidas pela Pixar e por obras mais recentes da Disney, o androcentrismo, a subjugação da mulher, o patriarcalismo e até mesmo a homofobia (personagens homens afeminados ou mulheres masculinizadas em geral são vilões ou, no mínimo, coadjuvantes que servem como alívio cômico) estão marcantemente presentes em filmes como Branca-de-Neve e os Sete Anões, A Bela e a Fera e Aladdin, para citar só alguns.

No entanto, essa ideologia sexista pode passar despercebida para a maioria dos expectadores e pode até ser posta em dúvida, quando se traz à tona a exceção do exemplo de Mulan como uma possível transgressão. Porém, a heroína chinesa empreende sua luta contra os invasores hunos para que no final tudo volte ao status quo em que mulheres são fêmeas e homens são machos.

A alegoria zoomórfica de O Rei Leão torna mais difícil perceber sua mensagem androcentrista, já que se tratam de animais vivendo, teoricamente, só pelo instinto, sem as regras sociais artificiais da cultura humana. Ao mesmo tempo, paradoxalmente, quando a olhamos como metáfora das relações humanas, a história deixa bem evidente, por baixo da bela fábula de reconciliação e assunção da responsabilidade, uma mensagem mais sinistra: uma defesa do Patriarcado.

A dinastia patrilinear

MufasaSarabiSimba
O rei, o herdeiro varão e a consorte tornada rainha.

A linda cena inicial do conto, ao som de uma bela música africana, cheia de cores da savana africana com sua fauna despertando ao nascer do sol para ver o recém-nascido herdeiro do trono como símbolo do próximo passo no ciclo da vida, é uma metáfora de uma monarquia humana em que o imponente rei celebra junto a seus súditos o nascimento de seu primeiro filho varão.

Por enquanto, a ideia de que o herdeiro tem que ser necessariamente um macho não fica tão explícita, pois Simba é a primeira cria de Mufasa com sua companheira Sarabi, presumidamente a rainha da savana, e podemos imaginar a possibilidade de que qualquer que fosse o sexo da criança ela seria considerada herdeira do reino. Mas a figura materna e feminina de Sarabi é secundária nessa cena, pois quem se destaca aqui são o pai masculino e o filho. A mãe mal aparece, como se seu papel se resumisse a dar à luz o pequeno leão.

Um dos cuidados que os Estúdios Disney costumam ter ao representar animais é a relativa fidedignidade e verossimilhança dos personagens zoomórficos com as respectivas espécies a que fazem referência no mundo real. Os leões, na natureza, vivem em grupos dominados por um macho e compostos na maior parte por fêmeas e filhotes. Estes são crias do macho dominantes com todas as outras fêmeas.

É interessante observar uma cena instigante do filme, em que Simba acorda seu pai para sair e brincar. Uma criança talvez não se dê conta disso, mas um adulto mais atento verá que a “corte” dormindo no “palácio” só tem um macho adulto (Mufasa) e várias fêmeas, incluindo Sarabi. Esta é somente uma das consortes do rei. Posteriormente veremos que no mesmo grupo há outros filhotes, dos quais só conhecemos Nala, a amiga de Simba, provavelmente da mesma idade que ele.

Dessas observações podemos presumir o seguinte: Mufasa tem um harém com várias esposas e/ou concubinas, e todas elas provavelmente têm filhotes dele; é provável que Simba tenha sido o primeiro filhote macho de Mufasa, e Sarabi se tornou “rainha” justamente por ter sido a primeira fêmea do grupo a lhe dar um varão; Nala é meio-irmã de Simba e tem a mesma idade que ele, mas sua importância no grupo é muito menor do que a dele, por ela ser fêmea (é até possível que ela seja um pouco mais velha que ele, tendo em vista que ela parece ser mais sábia e mais habilidosa, mas ela é preterida na sucessão do trono, já que não pode ser um rei).

Scar, o macho desviante

Mufasa, o macho reconhecido, e Scar, o macho desviante.

No entanto, há outro elemento que reforça a predominância não apenas do macho, mas sobretudo do masculino, da masculinidade e, ligada a isso, a heteronormatividade nessa sociedade patriarcal. É o que se vê na preterência de Scar, irmão de Mufasa, como herdeiro do reino. Ele não se encontra em segundo lugar apenas por não ser primogênito, mas porque não representa um ideal de masculinidade e sexualidade encontrado no exemplo de seu irmão. Além de aparentemente ser mais fraco fisicamente, Scar tem uma personalidade covarde e maliciosa, o que se opõe à bravura e honradez que se espera de um grande leão macho. A fraqueza, a covardia e a malícia estão ligadas, no imaginário conservador do sexismo ocidental, ao feminino.

Tradicionalmente, no Ocidente, a masculinidade se confunde com heterossexualidade. Um homem “verdadeiro” é capaz de passar sua semente adiante, e isso implica que ele seja heterossexual, que saiba lidar com, ou melhor, tenha poder para dominar as mulheres e impregná-las. Já vimos que Mufasa possui um harém e filhos com mais de uma fêmea. Porém, Scar não parece se interessar nas fêmeas, o que se torna ainda mais evidente na segunda parte do filme, quando ele se torna rei após matar seu irmão. Diferente de Mufasa, o usurpador não se cerca de leoas em seu decadente palácio, apenas as envia para caçar. Sua relação afetiva maior é com as hienas, suas lacaias. A anti-heterossexualidade de Scar (não há como afirmar com certeza que ele é homossexual, embora alegoricamente possa ser considerado assim) é reforçada pelo estereótipo afeminado de seu comportamento. Ele tem trejeitos que podem ser considerados como emasculados, vilipendiados numa sociedade machista e heteronormativa como a nossa.

É preciso enfatizar que o personagem do irmão traidor é concebido explicitamente como um mau caráter, o que em si mesmo pode não estar relacionado diretamente a sua identidade de gênero. Ele realmente se mostra um líder inepto e sua inabilidade para governar traz a penúria e a fome para seus súditos. Mas importa observá-lo como integrante de uma estrutura imagética ligada ao sexismo de nossa cultura. Scar é apenas um exemplo ente outros semelhantes em que coincide uma masculinidade desviante com o mau caráter vilanesco. Jafar, por exemplo, em Aladdin, é muito semelhante a Scar em quase todos os aspectos aqui tratados, bem como Hades em Hércules. Não é mera coincidência que em várias histórias de heróis masculinos da Disney a virtude do protagonista esteja atrelada a uma masculinidade idealizada e o vício do vilão a um desvio dessa masculinidade.

As hienas e o Matriarcado

Hyenas
Banzai, Shenzi e Ed. A fêmea no meio é a líder.

Mas é no antagonismo mais explícito encontrado na figura das hienas que vemos uma evidência ainda mais forte da defesa do Patriarcado. Neste caso, as hienas são um contraexemplo da sociedade dominada pelos machos.

Assim como os leões de O Rei Leão são apresentados com certa fidedignidade em relação aos Panthera leo reais, as hienas caricaturais são mostradas com características semelhantes às da espécie verdadeira, sendo a mais pertinente sua estrutura social matriarcal. Os membros da espécie Crocuta crocuta se organizam através da dominação de uma fêmea alfa e das outras fêmeas do grupo sobre os machos. Isso está evidente no trio principal de hienas do filme, liderado por Shenzi, a única fêmea do grupo.

Elas são vilãs no filme, e representam covardia, ardil e traição. Dessa forma, é por uma questão de estrutura narrativa que, uma vez que leões e hienas são retratados como antagonistas entre si, seus modos de vida se oponham um ao outro. O Matriarcado das hienas é condenado pelo viés patriarcalista da fábula, e isso se reforça pela forma desprezível por que elas são retratadas. A sociedade leonina, liderada por um leão macho reconhecido (e que domina inclusive outras espécies, tidas como súditos da família real dos leões), é defendida como a organização social legítima e desejável para todos.

Hakuna Matata e a irresponsabilidade

Simba, Timão e Pumbaa vivendo uma eterna infância.

Um dos momentos cruciais da vida de Simba é o período em que ele passa vivendo com a dupla Timão e Pumbaa, um suricato e um javali, respectivamente. Levando a vida segundo a filosofia do Hakuna Matata (expressão suaíle que significa “sem problemas”), os três passam seus dias se divertindo, imersos em total hedonismo. Com Timão e Pumbaa, Simba esquece quase completamente sua origem.

Seu modo de vida guarda analogias com o das hienas, sempre buscando a maneira mais fácil de sobreviver e sem assumir nenhuma responsabilidade ética por seus atos (no caso das hienas, delegando essa responsabilidade a alguém mais forte que elas – Scar -; no caso dos três amigos, anarquicamente desvinculados de qualquer relação de poder).

É interessante resgatar o que a antropóloga francesa Élisabeth Badinter escreve sobre a analogia que muitas culturas humanas fazem entre a infância e a condição feminina. Muitos povos consideram que a mulher é uma criança que não amadureceu, enquanto o homem é visto como uma criança que completou seu desenvolvimento, o que é uma forma de justificar a dominação masculina. O infantilismo de Timão e Pumbaa é um reflexo da sociedade matriarcal (feminina) das hienas, e a mensagem aí é a de que ambas são indesejadas para um domínio masculino ditado pelas regras patriarcais.

Essa fase de exílio é criticada duramente pelo fantasma de Mufasa, que adverte seu filho a assumir seu papel como legítimo herdeiro do reino. Contrapõe-se, assim, a irresponsabilidade do modo de vida infantil de Timão e Pumbaa à necessidade da assunção das responsabilidades de “homem” adulto formado, da adequação a um modelo de masculinidade idealizado.

O ciclo da vida

O Rei Leão é uma de minhas animações preferidas da Disney. Gosto do visual, da música e dos personagens, e admiro a história de reconciliação e amadurecimento do protagonista. Porém, como costumo dizer, apreciar uma obra não impede de enxergar vieses com os quais discordamos. A trajetória de Simba é repleta de símbolos pró-patriarcado, machistas e heteronormativistas, e é importante apontar para isso, especialmente quando levamos esse e outros filmes para as crianças, capazes de reproduzir as ideias e valores culturais sub-reptícias com as quais mantêm contato. Por isso outras obras devem ser vistas pela geração mais nova, especialmente os filmes da Pixar (sendo Valente um dos melhores exemplos) e os do Estúdio Ghibli, para citar dois ótimos exemplos, repletos de desconstrução dos papéis tradicionais de gênero e sexualidade. Assim o cinéfilo em formação pode perceber desde cedo que não existe apenas uma forma de se viver em sociedade e que os diversos meios de as pessoas se associarem afetivamente são válidos para aqueles que livremente optam por adotá-los.

12 comments

  • Mauricio tem sim uma mensagens oculta vocer deve parar no minuto 73 e botar camera lenta o nome de satanas aparece de tras pra frenter!!!!1

  • Thiago, adorei o artigo. A primeira parte, sobre o Mufasa, o harém e o papel insignificante das fêmeas é realmente indiscutível. A leitura é clara. 🙂

    Sobre o Scar, ainda que não fosse intenção do estúdio retratá-lo assim (se foi intencional ou não eu não faço a menor ideia), persistir nesse padrão em todos os "vilões" reforça a identificação do comportamento "emasculado" como ERRADO por simples associação.

    Excelente, grande abraço.

  • Pelo que entendo, a Disney pode ser considerada machista por propagar o ideal de heróis e princesas. Mas como busca seguir essa linha, não tem como fazer histórias muito diferentes disso não.

    Meus pontos de maior crítica se relacionam a esse maniqueísmo de novela da Globo, que mostra o bom como o belo e o mal como o feio, fraco , fora do padrão (e completamente mal).

    Concordo que o Scar é afeminado, mas, por exemplo, ele manda as leoas embora porque elas não são suas aliadas. Isso não me pareceu uma tentativa de pintar um quadro de um leão sem leoas (mas aceito que a interpretação é válida).

    Achei forçada demais a comparação entre Timão e Pumba e as hienas. E também não acho que o filme exponha, nesse ponto, a questão da responsabilidade como algo masculino.

    Houve outros pontos de concordância e discordância, mas em essência o que acredito é que o mal maior desse tipo de filme para criança é fazê-las acreditar em estereótipos. Como o fraco e feio ser mal e o forte e bonito ser bom, por exemplo.

    Dentro do contexto de histórias de heróis e princesas, já se estava usando animais no lugar dos protagonistas humanos, então simplesmente se colocou cada um no seu papel consagrado dentro desse tipo de fábula.

    Acho seu ponto de vista válido, mas me parece que está tão obcecado pelo tema do heteronormativo que acaba achando o que já estava procurando, mesmo que a coisa não esteja exatamente lá, e acaba perdendo a chance de enriquecer a crítica com outros pontos que até complementariam o argumento.

    • Concordo que há esse maniqueísmo vinculado a um tipo humano idealizado (belo e forte), só não mencionei isso explicitamente porque o foco do texto eram as questões de gênero. (E esse maniqueísmo, na minha interpretação, está vinculado também ao maniqueísmo de gênero, que coloca o feminino como inferior ao masculino, mas isso não vem ao caso agora.)

      A comparação entre Timão e Pumbaa, por um lado, e as hienas, por outro, não é uma equivalência, mas uma semelhança estrutural. Tanto o modo de vida das hienas quanto o dos dois amigos são considerados indesejados e ambos são contrapostos à ordem desejada do reino governado pelo leão. Eles têm isso em comum. Trata-se de uma analogia e, de certa forma, uma alegoria interna focada no fato de ambas as formas de viver estarem associadas à ideia de irresponsabilidade.

      A dicotomia responsabilidade/irresponsabilidade e sua ligação com masculino/feminino aparece em várias outras instâncias das representações sociais sexistas. Por exemplo, no cotidiano é comum se achar que a ordem de uma casa, de um local de trabalho ou até de uma comunidade precisa ser assumida por um homem, pois se enxergam as mulheres como pouco capazes de usar a razão. Às mulheres é relegado outro tipo de responsabilidade, subjugada, pois quem responde por elas é sempre uma figura de autoridade masculina. Tradicionalmente, quando um rapaz chega à idade adulta, espera-se que ele saia de casa e constitua uma família, assumindo o papel que seu pai assumia na casa em que cresceu. Quando é uma moça que chega à maturidade, espera-se que um homem se case com ela e a leve como esposa, submissa a alguém que assuma a responsabilidade por ela.

      No exemplo do filme, as fêmeas simplesmente aceitaram a dominação de Scar e ficaram esperando o retorno de Simba, não tomaram a iniciativa para lutar contra a opressão em que viviam. Delas não se espera que assumam essa responsabilidade.

      Se eu enfatizo certos pontos e, de certa forma, "forço a barra", é porque é uma interpretação que faz sentido, e na interpretação de uma obra de arte não importa o que o autor quis dizer ou não, e sim o que a obra diz ao expectador. Este é quem cria o sentido em sua leitura. Os elementos isolados formam um conjunto com autorreferências implícitas e implicações internas que podem ser apreendidos inconscientemente pela criança em formação e desde cedo em contato com a ideologia sexista refletida, intencionalmente ou não, nas histórias contadas em sua cultura.

      Existem outros temas que podem ser explorados, como moralismo, monarquia romantizada, desigualdade social/discriminação de classes e até questões raciais, mas não tive intenção de escrever um tratado e sim um artigo focando em um aspecto da obra. E acho que para enriquecer a discussão a partir daí seria preciso escrever outros textos.

      • Entendi. Acho as interpretações muito livres, muito fora da intenção do autor, por vezes exagerada. Mas essa é só minha opinião mesmo. E, é, acho que li esperando um pequeno tratado mesmo. Falha minha. 🙂

  • Quanta bizarrice…Só pra refutar o que vc diz logo no inicio desse texto ridículo de conceitos vazios, rico apenas em ódio " ao homem branco hetero", se vc simplesmente estudasse como os leões vivem na natureza, veria que o fato de ter apenas um leão no meio de varias fêmeas é a realidade na Africa. As femeas só acasalam com o MAIS forte, pela preservação da espécie. A não ser que vc diga que devemos ir lá dizer aos leões pararem de ser machistas… Sobre a comparação de Scar e Mufasa, que tipo de leão macho consegue procriar entre eles? A lei da natureza é a do mais forte e saudável, não esse moralismo e ideologia de segunda como do seu tipo. E sair desse viés homens x mulheres tão falado repetidamente por feministas extremistas. Vamos estudar e parar com teses infantis?!

    • Façamos um trato: você se recolhe na sua Zoologia que explica só o comportamento dos animais na vida real e eu fico aqui e continuo tecendo minhas teses bizarras sobre alegoria em obras de ficção.

      😉

  • Fui surpreendida com esse texto. Em pleno 2020, mesmo o filme em questão sendo o meu preferido da disney, e asseguro que minha preferência se baseia principalmente no comportamentos de Nala (que toma uma atitude em busca de ajuda e se arrisca bravamente em função disso, mesmo essa ajuda sendo dirigida a um macho, algo que também não concordo na narrativa do filme, sempre me perguntei porquê elas não lutaram contra o Scar e as Hienas para Sarabi arrumir o reino) e da própria Sarabi (por não deixar-se dominar por Scar e não baixar sua cabeça dentro desse novo contexto social, ela não se rende as exigencias de Scar, isso chama minha atenção).
    Esse seu olhar para o filme nunca havia passado diretamente pela minha cabeça e hoje precebo claramente a estrutura Patriarcal defendida pelo filme que eu intuitivamente sempre questionei.
    Me incomoda profundamente a postura de Simba em diversas partes do filme. Fazendo com que eu me distanciasse do personagem, principalmente na fase adulta. Valororizando o papel crucial de Nala e Sarabi como protetoras das outras leõas e honestamente valorizo o papel de Mufasa, pelos valores éticos que tenta passar para o filho, mas compreendo que o filme indiretamente o mostra como detentor de um harém e minimiza drasticamente o papel de Sarabi.

    Enfim, seu texto foi extremamente elucidativo para mim e me trouxe uma nova perspectiva!
    Gratidão!

  • Assisti o live action ontem e apesar de ter sido dado mais protagonismo para as fêmeas, não consegui deixar de pensar como seria o impacto na audiência mainstreaming enviesada pelo que chamo de “feminismo de mercado”. Um produto cultural feito para agradar um nicho predominante de público.

    Pesquisei no Google sobre o Rei Leão e o patriarcado e cá estou lendo os comentários desse artigo. O que estou achando divertido é como cada um enxerga o que quer na obra.

    Nada se cria e tudo se copia. Rei Leão foi baseado em Hamlet. Recauchutado e maquiado com bichinhos fofinhos. No caso, o comportamento social dos leões cai como uma luva para a estrutura do roteiro e só.

    É machista? Depende. Se olharmos por uma ótica funcionalista, não. Basta assistir qualquer documentário sobre leões e hienas no Animal Planet. O bando não dura muito sem um macho alfa. Os filhotes acabam sendo devorados e as fêmeas debandam para outro território, onde podem terminar abatidas ou se associam a outro macho. Foi o que Nala fez ao migrar de ecossistema e, por obra do acaso, encontrou Simba.

    Se olharmos sobre uma ótica de mercado, também não. Pois apesar de ter sido baseado em Hamlet, continua sendo uma fábula para crianças. O que os pais e tutores querem é um entretenimento que passe uma moral. Geralmente ligada a ordem. A animação fala sobre responsabilidade. Não apenas consigo como com os demais.

    A Disney simplesmente refez um de seus maiores sucessos, como fez com A Bela e a Fera e Mulan e ainda se deu ao trabalho de dar mais protagonismo para as personagens fêmeas para agradar o feminismo de mercado.

    Mas como imaginei, a audiência está tão enviesada que não conseguem enxergar além do discurso feminista dominante e apenas curtir a obra.

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