O sexo dos padres

Estava pretendendo escrever um texto sobre a declaração do cardeal Tarcisio Bertone a respeito da pedofilia na Igreja e sua suposta relação com a homossexualidade. Antecipei o assunto no post anterior, Pai e mãe não têm sexo, e o comentário de AmBar Amarelo suscitou várias questões interessantes que tomaram a forma de um novo post.

A adoção de crianças por homossexuais não é uma prática tão restrita quanto se pensa. Mas ainda há restrições baseadas num preconceito que considera normal apenas um casal de pais heterossexuais (pai e mãe), ou pensa que a conduta sexual dos pais influencia a dos filhos diretamente, ou atrela homossexualidade à pedofilia e acha que os filhos correm risco de ser molestados pelos próprios pais adotivos.

AmBar começa assim seu comentário:

O meu maior medo (e acredito de muitos outros leigos como eu) é que nós não sabemos se existe relação entre homossexualismo e outros desvios do comportamento sexual tal como a pedofilia.

“Outros desvios” denota que você considera a homossexualidade um desvio, ou seja, acredita que há uma conduta normal (a heterossexualidade entre adultos) e que qualquer coisa diferente disso é anormal.

Porém, se nos voltarmos para a Biologia, veremos que a homossexualidade é um comportamento comum entre muitas espécies animais, e isso não implica um obstáculo à sobrevivência da espécie. Estudos mostram que os indivíduos homossexuais aparecem em algumas espécies justamente com a função de ajudar a criar os filhotes dos outros indivíduos.

Mas estamos falando de seres humanos, não é? Então podemos nos voltar para a Psicanálise, segundo a qual a sexualidade humana é difusa e se constrói na trajetória individual de cada espécime.

Um “indivíduo homossexual” não é um dado óbvio, não é indentificável de maneira tão espefícica. Há muitas pessoas que vivem como heterossexuais mas já tiveram em algum(ns) momento(s) atração por alguém do mesmo sexo. Há pessoas que vivem como homossexuais e já sentiram atração por alguém do sexo oposto. Há indivíduos que são bissexuais, sem preferência. Há bissexuais (tanto homens quanto mulheres) que preferem homens, há bissexuais (tanto mulheres quanto homens) que preferem mulheres. Há pansexuais…

Qualquer tentativa de se estabelecer uma relação entre homossexualidade e pedofilia deverá levar em conta toda essa realidade. E deverá considerar todos os casos de “pedofilia heterossexual”, especialmente os inúmeros casos escondidos e abafados de abuso das meninas pelos pais, pelos tios, pelos amigos dos pais…

Por exemplo, atualmente a igreja católica vive um período incômodo pois foram revelados diversos casos de abusos de padres contra crianças. Recentemente o secretário do estado do Vaticano, cardeal Bertone, afirmou que estes casos de pedofilia não estariam ligados ao celibato mas sim ao homossexualismo.

Falar de tabus é complicado, tem que se “pisar em ovos”, mas vamos lá:

Os casos de pedofilia que vemos envolvendo padres em sua maioria envolve o abuso de meninos (sexo masculino) ou seja, eram pedófilos e homossexuais!

O cardeal em questão não tem qualificação para falar sobre isso e nem citou os estudos psicológicos aos quais se referiu. Para entender os casos de pedofilia dos padres, seria preciso considerar muitas outras questões.

Vamos fazer um exercício narrativo-mental para imaginar uma situação em que homossexualidade teria uma relação com a pedofilia:

  1. Um jovem percebe desde cedo que sente atração por outros meninos e não sente por meninas. Seu dilema é: ter que esconder seus relacionamentos homossexuais e viver “no submundo” ou ser infeliz fingindo que é heterossexual… ou ainda sofrer a pressão da família e dos amigos para encontrar uma mulher e se casar.
  2. Ele decide ser padre, condição na qual, ele pensa, vai evitar qualquer uma das infelicidades acima.
  3. Como é um ser humano, o padre não consegue destruir sua sexualidade latente. Ele continua sentindo atração por outros homens. Mas, como não aprendeu a seduzir, não consegue abordar ninguém da sua idade. Pior ainda, nem quer se arriscar a conviver com outros homossexuais, para não ser visto em público e não estragar sua reputação.
  4. No covívio do padre, há várias crianças, como coroinhas e filhos das fiéis. A possibilidade de usar seu poder sobre essas crianças (tanto o poder advindo da autoridade de padre quanto o poder físico vindo do fato de ser um adulto) para satisfazer seus desejos e a possibilidade de fazer isso às escondidas (quem desconfiaria de um padre? – além disso, ele pode usar o medo para ameaçar a criança e obrigá-la a não contar a ninguém) o levam a praticar a pedofilia.

Essa é uma trajetória possível, mas podemos pensar em muitas outras, e podemos imaginar variações em cada etapa. Não há muitas meninas no convívio dos padres. Aqueles que são bissexuais terão mais chances com meninos do que com meninas. E há, claro, padres heterossexuais que molestam meninas, mas pode haver também aqueles que, mesmo com tendência heterossexual, só consigam encontrar a opção homossexual, devido às circunstâncias… mas quem já não ouviu histórias de (ou não conhece) padres em cidades do interior com vários filhos espalhados por aí?

Penso que deveríamos, inclusive, considerar alguns casos de pedofilia não como uma questão de sexualidade, mas de exercício de poder e coerção. O uso do sexo pode ser uma entre muitas ferramentas usadas por adultos que sentem prazer em subjugar crianças, seja espancando, xingando, ameaçando, chantageando ou estuprando.

Além disso, um pai que espanca os filhos com frequência está exercendo uma violência semelhante à que um padre pratica ao estuprar uma criança. A palmatória não era (ou não é) menos violenta. O que nos faz pensar que a violência sexual é pior do que outros tipos de violência? Talvez o grande tabu que gira em torno da sexualidade e que é, em grande parte, fruto do catolicismo medieval (ou seja, da Igreja na qual estão esses padres pedófilos).

Não sou historiador mas se não me engano em algumas sociedades como a romana, era comum homossexualismo e pedofilia misturados em uma relação só.

Então fica a pergunta, até que ponto pode-se saber se essas coisas estão relacionadas ou são fruto de uma coincidência?

A Grécia antiga tinha aspectos bem diferentes daquilo que concebemos como sexualidade em nossa cultura contemporânea. A relação entre “pedofilia” e “homossexualidade” em alguns contextos sócio-históricos da Grécia se dava da seguinte forma: os jovens que atingiam a adolescência eram entregues a um tutor (este era chamado de erasta e aquele de erômena), que tratava da educação integral do jovem, tanto cultural quanto sexual, tanto teórica quanto prática. O erasta era geralmente um pouco mais velho do que o erômena, tendo passado há pouco tempo pela tutelagem. Era um estágio necessário para a transformação de um menino em adulto e cidadão grego.

No entanto, um adulto que mantivesse relações homossexuais era considerado um desviante, já que na vida adulta a sexualidade normal era com mulheres. Outra forma de relação homossexual era no exército, em que os soldados formavam pares com um laço de fidelidade e amizade que incluía relações sexuais, mas não eram relações pedofílicas.

Por isso, ao pensar que pode haver uma relação entre pedofilia e homossexualidade, é preciso usar a razão para ver que se trata, antes, de um preconceito baseado numa falácia lógica. Poderíamos buscar argumentos tão convincentes quanto esses, baseados em fatos, para relacionar a heterossxualidade à pedofilia, assim como um importante estudo certa vez demonstrou a relação entre o crime e a ingestão diária de pão…

É preciso recorrer a ciência nesses casos e esperar alguma análise que venha esclarecer esses possíveis mitos. Enquanto isso não ocorre, o que temos é achismos de ambos os lados (achismos baseados em fatos, porém sem saber se estão relacionados).

Como trata-se de algo tão sério que envolve crianças, acho que o estado não deve tomar nenhuma medida que vise facilitar a adoção desses grupos, antes de se fazer um estudo mais profundo sobre isso.

Muita gente compõe esse alarido de que há ou pode haver ou “é preciso saber” os perigos para crianças adotadas por homossexuais. Mas ninguém pensa, por exemplo, em proibir fumantes de adotar crianças, ou proibir cristãos fundamentalistas, ou proibir pessoas que têm porte de arma. São todas pessoas que apresentam potencial risco para os possíveis filhos que vierem a adotar.

Há uma pessoa em minha família que é casada com outra pessoa do mesmo sexo. O casal tem 3 filhos adotados e eu dificilmente já vi uma família tão harmoniosa quanto essa. As crianças têm personalidades fortes e saudáveis e eu duvido que haja algum tipo de violência séria (a não ser a pedagogia do castigo comum a quase qualquer família) às crianças por parte do casal.

Mas eu negaria a um padre adotar uma criança, pelo mesmo motivo que fez Alfred Hitchcock gritar a uma menina de quem se aproximava um padre na rua: “Corra, salve sua vida!”

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7 comments

  • Olá Thiago, quanto a esse assunto eu diria que sou "agnóstico", pois não posso afirmar que não existe uma tendência maior a pedofilia dentro do grupo dos homossexuais do que dentro do grupo dos heterossexuais, mas também não posso afirmar que isso não exista.

    Ai é que está a tecla que eu bati: faltam argumentos de especialistas, estudos científicos (mais estatística e menos "psicologia do achismo lógico") para derrubar de vez esse possível mito.

    Como não trata-se de algo que envolve somente a vida dos homossexuais (como casamentos e demais direitos civis), mas há o envolvimento de crianças (que são indefesas) acredito que medidas que visem facilitar a adoção por parte dos homossexuais devam ser bastante cautelosas.

    Note que não estou dizendo que todos os homossexuais são pedófilos, porém existe uma desconfiança geral de muitas pessoas de que exista uma tendência maior dentro desse grupo.

    Certamente o padre não está qualificado para opinar sobre o assunto (talvez nem Froid se estivesse vivo e não possuísse dados estatísticos).

    As universidades estão ai a anos, e temos milhares de pessoas pesquisando sobre os mais diversos assuntos, acredito que existam centenas de estudos (estudos baseados em uma boa estatística e não em RPG/achismo/psicológico) que possam jogar uma luz sobre essa questão.

    Esse tema é perigoso! é perigoso falar o que falei publicamente pois posso ter tachado depois de homofóbico, o cara que afirmou a relação absurda entre pedofilia e homossexualismo.
    Então mais uma vez eu gostaria de dizer: Não estou afirmando isso. Apenas existe esse mito na sociedade, e eu acredito que seria prudente pesquisa-lo sob a luz da ciência.

    Provavelmente esse mito é tão absurdo quanto relacionar o fenótipo do indivíduo com a tendência ao crime e violência (mito esse que foi jogado na lata do lixo com a ajuda da ciência).

  • PS: desculpem-me os erros de português (tenho uma vergonhosa dificuldade com o português).

    Desculpem-me o erro ao escrever Feud como Froid! Não é português mas faz vergonha mesmo assim.

  • AmBar Amarelo,

    Quem nunca errou que atire a primeira pedra, hehehe…

    Eu vou pela linha do Thiago, que como sempre trouxe um exelente texto. Pelo que já li a respeito, e não foi pouco, apesar de também não ser um estudioso do assunto, não existe nada, nenhum dado científico, psicológico ou psiquiátrico que permita relacionar homossexualismo (o termo mais apropriado seria homoerotismo) com pedofilia. Se uma criança do sexo masculino corre algum risco de ser molestado sexualmente por um pai adotivo homossexual esse risco é identico ao enfrentado por outra criança do sexo feminino criada pelo pai heterosexual.

    Acredito que toda pessoa disposta a adotar uma criança deve ser acompanhada rigorosamente por um assistente social. É uma responsabilidade muito grande e a segurança e o bem estar da criança deve sempre estar em primeiro lugar, mas essa segurança precisa ser pautadas em dados concretos e não em suposições e preconceitos. Acredito que não faz sentido restringir o direito de um casal homossexual adotar uma criança, assim como não faz sentido restringir o direito de um pai heterossexual de criar sozinho sua própria filha.

    Thiago,

    Roubei sua ideia e escrevi um artigo sobre o mesmo tema. Abraço!

  • thiago, as pedras… deixe-as no chão…

    continuo achando a mesma coisa de que achei antes…
    não acredito que a pedofilia é um mal apenas da igreja, mas sim de
    toda a sociedade… como eu havia dito, vemos nas revistas e na tv…
    médicos, pais, padrastos, padres, professores…
    combatamos sim a pedofilia na igreja, com toda força necessária(polícia, digo) mas não esqueçamos de que este é um problema de todos.

  • @AmBAr e @Eduardo,

    Como eu disse no post, a própria definição de um indivíduo homossexual é difusa, assim como o é a de um indivíduo heterossexual. São rótulos identitários que se adequam às necessidades de nossa sociedade e não haveria como fazer uma pesquisa psicopatológica objetiva relacionando um tipo de sexualidade a uma tendência pedofílica.

    Tendo em vista o fato de haver muita pedofilia praticada por heterossexuais, por que não sugerir uma pesquisa com esse "grupo"? A própria sugestão de fazer uma pesquisa com o "grupo dos homossexuais" já se baseia em um preconceito. No entanto, poderia ser frutífera uma pesquisa que analisasse qualquer tipo de relação entre as várias facetas da sexualidade humana. Porém, só observando a relação entre homossexuais e seus filhos adotivos é que se poderia averiguar qualquer risco.

    Mas, como disse Eduardo, toda adoção, independentemente da sexualidade dos pais, deve ser acompanhada.

    @Marquês,

    Eu quis aproveitar o assunto em voga para abordar o tema. Mas, como você pode averiguar, não me restringi a considerar a pedofilia como um problema da Igreja, tanto que ampliei a questão para um problema maior: a violência infantil presente em todas as instituições de nossa sociedade.

    Talvez eu tenha deixado implícito, sem querer, que os padres tendem a ser pedófilos, com a historinha fictícia. Assumo meu erro. Quis apenas fazer um exercício mental para teorizar um possível caminho para que um padre específico se torne pedófilo. Acho até que os padres pedófilos sejam minoria. Porém, acho que deveria haver um acompanhamento mais rígido em relação à conduta dos padres, pois é muito difícil para qualquer ser humano viver uma vida de castidade (sim, acho que a pedofilia deve ter a ver, em muito casos, com a castidade, mas há muitas outras possíveis causas, que podem estar presentes em muitos contextos diversos que não a vida clerical).

    Estava pensando hoje sobre o papel da Igreja para os católicos e tenho a forte impressão de que sua liderança é muito mais teórica do que prática, se dá muito mais ao nível de aconselhamento, prescrições, do que no exemplo de uma vida "cristã" (seja lá o que isso signifique nos dias de hoje…)… e isso dá outro post…

  • Não existe nada científico comprovando o homossexualismo com pedofilia , mas existe algo estranho , pelo fato de existirem muitos movimentos dos direitos homossexuais envolvidos com o ativismo pró-pedofilia , inclusive a literatura gay é repleta de livros que fazem uma explicita apologia a pedofilia . Isso é fato .
    NAMBLA – É um grupo americano de ativismo dos direitos gays , pederastas e pedófilos

    PVND – É um grupo holandês de ativismo dos direitos gays , ateus , pedófilos , zoófilos ( sexo com animais ) e querem leis para as pessoas poderem andar nuas nas ruas , e descriminalização de drogas.

    MARTIJN – É um grupo holandês de ativismo gay e pedófilo

    NVSH – É um grupo holandês de ativismo gay que defende a pedofilia,necrofilia ( sexo com mortos ) zoofilia ( sexo com animais ) incestos ( sexo entre mãe e filho , pai e filha ) e o casamento de 4 ou mais pessoas ( isso também é bem estranho , seriam dois maridos e duas mulheres , os filhos teriam dois pais e duas mães )

    APD ( Association pedhofilie dinamark ) – Grupo de ativismo gay e pedófilo .

    Tom ´o Carrol – Grupo de ativismo gay e pedófilo

    Shotacon – grupo japonês que divulga mateiras pornográficos entre gays e crianças transando .

    krumme 13 – grupo de ativismo gay e pedófilo

    René Guyon Society – Grupo de ativismo gay e pedófilo

    Child Love – Grupo de ativismo gay e pedófilo

    GLF ( frente da libertação gay ) – grupo de ativismo gay e pedófilo TODOS ESSE GRUPOS DEFENDEM AS CAUSAS HOMOSSEXUAIS , MAS ELE OMITEM QUE DEFENDEM CAUSAS PEDÓFILAS . São grupos feitos por homossexuais que querem que a pedofilia seja legalizada .
    Porque os maiores ativistas pró-pedofilia do mundo são homossexuais , eu acho isso estranho , mesmo que o homossexualismo não esteja ligado diretamente com a pedofilia , então porque os maiores ativistas pró-pedofilia são homossexuais , aqui no Brasil temos o exemplo do Luiz Mott , e isso vai mundo a fora , eu sinceramente acho estranho , muito estranho .
    Praticamente todos os grupos que defendem a pedofilia são grupos dos direitos homossexuais . Não estou mentindo olhe vc mesmo .
    NAMBLA ,VND ,MARTIJN,NVSH ,APD ( Association pedhofilie dinamark ), Tom ´o Carrol,Shotacon ,krumme 13,René Guyon Society ,
    Child Love ,GLF.
    eu te deixo uma pergunta porque todos os grupos de ativismo PRÓ-PEDOFILIA , são homossexuais ?
    Estranho isso não é verdade . Todo ativismo pró-pedofilia está ligada aos direitos dos homossexuais !!!
    Não sei não , outra pergunta . Existem pedófilos heterossexuais e homossexuais , mas porque só os pedófilos homossexuais querem a legalização da pedofilia ?
    Só Grupos homossexuais reivindicam a pedofilia legalizada . E toda a obra da literatura gay que é voltada exclusivamente a pedofilia ? Existem milhares de livros de conteúdo homossexual que faz uma grande apologia a pedofilia e o amor entre os homens e os meninos .

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