Coronelismo virtual
Os leitores da Teia sabem que tive um texto plagiado. Em resumo, descobri o plágio de um texto meu no site Star Trek Brasil (www.jornadanasestrelas.com), enviei mensagem, pediram provas de que o texto é de minha autoria, enviei provas e não recebi mais nenhuma manifestação do site. Nesse ínterim, muita gente denunciou e enviou reclamações, diretamente ao site ou no Twitter.
Paralelamente, outro blogueiro, Hugo Cardoso, também alertado para um plágio no mesmo site e pela mesma colunista, Jéssica Esteves, escreveu sobre o caso e enviou uma mensagem pelo Twitter para o site. Diferentemente do que aconteceu comigo, a resposta do site foi uma demonstração de baixaria, típica de quem não tem argumentos para se defender.
As respostas cretinas a Hugo podem ser vistas aqui e aqui. A primeira é um insulto direto e demonstra tanto que o pessoal do site sabe que a denúncia de plágio tem fundamentos quanto está disposto a não tomar providências a respeito disso.
A segunda foi uma forma de dizer que não têm medo de terem sua podridão exposta, e ao acusar Hugo de querer ser “dono do mundo”, estão eles mesmos afirmando que o são. É uma mensagem tão sem noção que veicula um disparate ao pretender que Hugo não tem nada a ver com o assunto. Mas ele está diretamente envolvido, pois foi espoliado por Jéssica Esteves. Como se não bastasse tanta brutalidade, ainda escrevem muito mal.
Toda essa manifestação é bizarra e contraditória, tendo em vista que Jornada nas Estrelas é uma franquia de histórias que procuram veicular elevados valores éticos, representados pela fictícia e utópica Federação dos Planetas Unidos. Mas qualquer código moral pode ser usado para justificar atos de violência, como a Inquisição promovida pelos seguidores do mítico pacifista Jesus Cristo.
Também achei estranho que essas ofensas, dispensadas a Hugo e também a meu irmão Diego e a meu amigo Léo Rodrigues, não tenham sido endereçadas a mim. Pelo que Hugo disse em seu próprio blog, dei-me conta de que o fato de o site ser brasileiro e Hugo ser português é um obstáculo para qualquer tipo de ação judicial, que seria muito difícil levar adiante devido às diferenças de jurisdição e de leis.
Quanto aos outros injuriados, não estão diretamente envolvidos, o que é visto pelo pessoal do site como uma oportunidade para jogar sua raiva em alguma direção sem correr muitos riscos de ser processado. Ou seja, são várias manifesações de covardia. Mas errar é humano, e as pessoas que fazem esse site não são vulcanos, ferengi nem trills.
Talvez eles quisessem deixar implícito que os erros da colunista não são culpa do site. Eles realmente podem ter agregado a moça sem saber que ela recorreria ao plágio para alimentar o site. Mas, ao perceber isso, deveriam ter sido mais sérios, tirando os textos do ar ou lhes dando os devidos créditos (além do meu e o de Hugo, havia vários outros textos plagiados). E nem precisava pedir desculpas.
Hoje eles tomaram, finalmente, uma providência razoável. Tiraram do ar a coluna e os artigos assinados por Jéssica Esteves. O que enfim poderia ser considerado um ato de humildade parece mais ter sido motivado por covardia. Ora, o @startrek_brasil continuou enviando insultos e demonstrando imensa arrogância (agradecendo a visibilidade que os tweets de reclamação têm dado ao site, por exemplo – francamente, não me importo se o site está fazendo sucesso ou não, mas me incomoda que enganem cada vez mais leitores).
Coronelismo virtual
Eis uma das lições que se podem tirar disso tudo: na internet, as estruturas de dominação se reproduzem, mesmo que virtualmente. Na história humana, temos vários exemplos de povos e pessoas que usaram algum tipo de poder para se apoderar dos bens alheios (dinheiro, terras, pessoas – que se tornavam escravos ou súditos). Esses espólios eram usados para aumentar ainda mais seu poder e para manter a ilusão de que a dominação assim criada era legítima, vontade dos deuses, prova de uma suposta superioridade de um povo ou de seu destino glorioso.
Um exemplo mais próximo da realidade da maioria dos leitores da Teia é a história fundiária do Brasil. Desde a Abolição da escravidão até hoje, pratica-se o chamado coronelismo, o monopólio realizado por indivíduos e famílias que possuem capital econômico e político para manter uma posição de poder, estabelecendo suas próprias regras na região em que atuam, espoliando terras ocupadas por pequenos agricultores (e se arrogando a propriedade legítima), submetendo pessoas à obediência forçada, usando meios criminosos para silenciar e matar aqueles que ameaçam seu poder.
O que pode ser visto como uma versão em miniatura dos impérios, como o Romano e o Mongol. No universo de Jornada nas Estrelas (já que estamos falando nisso), o Império Klingon utiliza esses mesmos meios para estender e ampliar seu poder na galáxia. Sua primeira aparição na série (Missão de Misericórdia – Errand of Mercy -, 27º episódio, 1ª temporada, TOS) é emblemática daquilo que os caracteriza como um povo conquistador, belicoso, orgulhoso e imperialista. Kor, agente do Império Klingon, aporta no planeta Organia declarando que este está automaticamente anexado ao Império e que toda manifestação contrária será reprimida.
O site Star Trek Brasil agiu como um coronel que se pensa intocável e não assume como crimes os atos de roubo que comete. Ao contrário, deixa bem claro que a visibilidade que possui na internet, a quantidade de leitores e de seguidores no Twitter, lhe serve como capital para justificar sua impunidade, e ainda envia ofensas aos injuriados, como demonstração de uma suposta imunidade.
Os autores cujos nomes foram mascarados pelo nome de Jéssica Esteves não têm tantos leitores nem tantos seguidores no Twitter para promover uma mobilização de tamanho significativo. Mas eles têm provas a apresentar e têm registrada a publicidade de todo o episódio na internet. Provavelmente nem Jéssica Esteves (se é que ela existe) nem o Star Trek Brasil pedirão desculpas, mas agora eles sabem que, se incorrerem novamente no erro, estão suscetíveis a novas denúncias. Não da minha parte, pois me cansei disso, tenho minha vida para viver e meus posts para escrever. Mas basta ter amigos menos pacientes e mais dispostos a nos defender para que certas falcatruas venham à tona.
7 comments
A grande lição a tirar de toda esta "novela" é que tudo podia ter sido resolvido de forma simples e educada, retirando os textos e/ou reconheçendo a devida autoria.
Os responsáveis optaram pela insulto e quando perceberam que a publicidade negativa poderia afectar a credibilidade, resolveram retirar os textos e encerrar o caso. Resta saber se esta não será uma medida provisória, para evitar danos colaterais.
Mas esta foi uma prova de que a união faz a força, mesmo em continentes diferentes! 🙂
Eu acho que ainda dá para processar o site.
Embora o artigo tenha sido excluído, ainda se encontra no "cache" do google, na íntegra.
Qualquer coisa, as ofensas estão aí para dar suporte à acusação.
Sabem eu acredito muito na vingança 🙂 Ainda acho que eles merecem sofrer e muito…
Essa Jéssia Esteves é apenas um fake criado pelo próprio site para poder plagiar abertamente sem que a culpa caia necessariamente sobre eles.
Isso (os dois recados, que, de fato, são mesmo um só!) é o que eu chamo de "estupidez sem fim"! São péssimos até na hora de responder! Mas, meu caro Thiago, só um detalhe: não se acanhe (nem deixe se acanharem) acerca de "barreiras" entre nações ou entre irmãos/amigos: qualquer um desta "teia" (como bem já o disseste!) que for ofendido ou tiver sido plagiado, com ônus por sobre tal plágio (no caso, parece-me que a "jornalista" recebeu pelo teu texto!), merece ter sua honra (ou imagem ou privacidade ou propriedade intelectual) ressarcida, especialmente com os recentes avanços do Direito Virtual! Um abraço e aguardando mais (e melhores) notas sobre esse escândalo!
Realmente sinto muito por tudo o que aconteceu.
Tenho certeza de que tudo será resolvido da melhor forma possível.