Mind tricks
O site akinator.com é divertido. O gênio da lâmpada Akinator vai lhe perguntar sobre o personagem (real ou fictício) em que você está pensando. De acordo com suas respostas, ele tentará adivinhar. Até hoje, ele errou poucos dos meus palpites e dos de outras pessoas a quem mostrei o site.
Com o tempo você vai percebendo que as perguntas são colocadas de modo inteligente, e suas respostas vão eliminando as possibilidades no banco de dados do site, até que só sobra uma resposta certa. Às vezes pode haver mais de uma resposta no final (já que o número de perguntas é limitado), e o programa deve buscar a mais popular das respostas possíveis, propiciando um possível erro.
As sugestões dos internautas também contribuem para aumentar o banco de dados de personagens e de perguntas e ajudar o gênio virtual a acertar com cada vez mais acurácia. E surpreende às vezes, como quando ele adivinhou que eu pensava em Alfred Pennyworth, mordomo de Bruce Wayne. O mais intrigante foi que meu irmão disse que mostrou o site aos colegas no trabalho e Akinator adivinhou várias atrizes pornô brasileiras.
Lembrei-me então de uma máquina que causou muita polêmica e discussão no século XIX, e que foi objeto do conto Maelzel’s Chess-player, de Edgar Allan Poe. Era um robô chamado O Turco, que consistia num boneco preso a uma caixa cujo topo tinha um tabuleiro de xadrez. Um jogador real fazia suas jogadas e o boneco, não lembro através de que mecanismo, respondia suas jogadas e, na maioria das vezes, ganhava as partidas. Muitos buscaram descobrir como funcionava o engenho, e já se considerou que havia um anão dentro da máquina, que era exímio jogador de xadrez e fazia funcionar o boneco.
Hoje em dia nós nos divertimos tentando adivinhar como os mágicos de rua, tais quais David Blaine, Criss Angel e Cyril Takayama, conseguem executar performances tão impressionantes como levitar, fazer outras pessoas levitarem, adivinhar uma palavra de um livro escolhida aleatoriamente por você, fazer um objeto atravessar vidro, transformar um sanduíche de um menu em um sanduíche real e tantas maravilhas que deixam o cérebro em curto circuito.
Blaine é o mais peba. Angel e Takayama são fenomenais.
Sabe-se que os mágicos utilizam prestidigitação (“a mão é mais rápida do que o olho”) e distração, entre outras técnicas, para iludir as plateias. De vez em quando, aparece um “Mr. M” para desafiar os ilusionistas a inovarem seus números. É um bom exercício de criatividade e de superação dos limites humanos. Infelizmente, são essas técnicas de ilusão mental que muitos adivinhos utilizam para iludir os incautos ingênuos. O texto Como se tornar um vidente, de Newton “Cafetron” Gonzales (em seu blog Nebulosa Nerd’s Bar) é bem esclarecedor sobre os meios que se podem usar para fazer as pessoas pensarem que um adivinho tem percepções extrassensoriais.
No entanto, há fenômenos e técnicas que fogem à especulação que leva em consideração somente a ilusão de ótica ou de outros sentidos. A experimentação de técnicas de aprimoramento psico-físico que nos levam a buscar os limites de nossas capacidades somáticas e perceber e desenvolver as potencialidades extrafísicas deveriam ser encorajada em nossa cultura/educação. A prática de educação física deveria ser complementada com exercícios de yôga ou similares.
As aulas mais cognitivas deveriam se enveredar pelo desenvolvimento da memória (com técnicas usadas há séculos pelos árabes, por exemplo, que conseguem decorar em pouco tempo o Alcorão) e das percepções. Sentir-se integrado no ambiente ao redor, perceber-se uma parte do universo, é o objetivo de muitas filosofias que buscam na meditação uma integração com a natureza. O pouco que já senti nesse âmbito já é bastante recompensador.
Como muitas coisas que se encontram na internet, o Akinator não tem uma grande utilidade além de distrair um pouco. Já esta figura misteriosa abaixo deixa você adivinhar a palavra em que ele está pensando. É uma forma legal de praticar o inglês. No link presente no flash há outros joguinhos interessantes (desobri esse site graças a Dyego). Aqui se trata mais de distração e imaginação sem disciplina.
A mente é capaz de conceber o universo, de compreendê-lo (contê-lo), e está dentro dele compreendida. Podemos jogar com a mente através de técnicas que a iludam, mas é sempre possível superar esta ilusão e criar uma ainda mais complexa. Conhecer a mente é saber como enganá-la e descobrir como despistar as ilusões, como aprimorá-la para compreender em detalhes o Cosmos. Esse é o sentido do pensar, essa é a utilidade de se aprender.
7 comments
Antes que eu esqueça, esse texto é uma versão ampliada de um post publicado originalmente antes de eu ter perdido parte do conteúdo do blog numa operação arriscada.
Infelizmente, não pude resgatar a data da publicação original e, pior, parece que não conseguirei recuperar outros textos perdidos.
Coisas que acontecem…
David Blaine tem um truque em que ele manda vc pensar em uma carta qualquer do baralho (isso pela TV) dai ele adivinha em qual carta você pensou!!!
O pior é que eu não entendo nada de baralho, nem sei os nomes das cartas, mas pensei em uma carta e ele adivinhou!!
Sempre fiquei curioso para saber como ele fez isso! até porque o programa era gravado!!!!!
Eu acredito que deve ter a ver com algum tipo de mensagem subliminar, vai ver a carta que eu pensei apareceu diversas vezes durante o vídeo e eu nem percebi.
Imagina isso sendo usado na época de eleição!!!!!!!
Se estou a passear no Parque do Ibirapuera e um cara chega e pergunta "Do you wanna see something?" saio correndo, hehe!
Assistindo a uma entrevista com o Criss Angel, recordo-me de ele ressaltar a importância de cumprimentar as pessoas com um aperto de mão, antes de qualquer truque com elas. Dessa forma ele consegue meio que "mensurar" a confiança que elas possuem nele, o que muitas vezes é a chave do sucesso de um truque. Esse tipo de técnica (que provavelmente tem algum nome chique como prestidigitação!) também é muito utilizada pelos integrantes do Cirque du Soleil, em números que exijam a participação da platéia. Para variar, apesar de parecerem distantes, as artes sempre se interpolam de alguma fora!
Aqui no trabalho tínhamos um placar para marcar os acertos e as bolas foras do Akinator. Ele tinha uma vantagem considerável no páreo! Em relação à "operação arriscada" que efetuaste, não há mágica que talvez salve esses textos?! Hehe!
Abraço e inté!
É, @AmBAr, esses truques são os mais perturbadores. Ou ele induziu de alguma forma o espectador a pensar naquela carta (através de linguagem subliminar) ou ele sabe qual carta as maioria das pessoas pensa e usa exatamente essa (da mesma forma que aquele teste que manda você pensar numa ferramenta e depois numa cor; a maioria das pessoas pensa num martelo vermelho).
@Joey, o uso da linguagem corporal no ilusionismo é importantíssimo, e as performances de Criss Angel mostram isso muito bem. Ele seduz as pessoas com seus gestos e sua voz, detecta quem é mais sugestionável… e estou certo de que sem isso nunca conseguiria iludir ninguém.
Ou seja, essa sedução representa uma grande parte do esforço do mágico, assim como a força das pernas representa uma grande parte da técnica dos halterofilistas, levantadores de peso (quando tendemos a pensar que o importante é a força dos braços).
Tem toda a razão @Thiago Leite! Sem o recurso e o apelo visuais, a performance toda do ilusionista está fadada ao insucesso. Isso, juntamente com seu exemplo do halterofilista, remete a uma generalização inevitável: tudo o que é meticulosamente bem preparado e executado aparenta banalidade.
Bom, no caso do halterofilista, talvez nem tanto, hehe!
Inté!
Sempre fiquei impressionado com ilusionismo, toda vez que eu vejo um número eu fico tentando descobrir como é que acontece mas em 99% das vezes…. não da pra chegar nem perto.
Quanto ao akinator eu já me sinto mais confortável =D
Vemos ai um caso de coisas que são apresentadas pra nós como fantásticas, mas que muitas vezes não temos noção da sua real aplicação. O akinator provavelmente usa um tipo de técnica da Inteligência Artificial chamada Aprendizado de máquina, que pode compreender vários métodos, aprendizagem indutiva (eu chuto que ele usa uma arvore de dedução indutiva), aprendizagem por aconselhamento e por ai vai.
Não temos máquinas super inteligentes como a gente vê no filme IA e nem sei se seremos capazes disso algum dia, mas a computação e a Inteligência artificial tem muuuuuitas aplicações interessantíssimas que num futuro próximo podem mudar a forma como interagimos com muitas coisas desde como os professores ensinam numa sala de aula até no modo como jogamos um videogame… as evoluções tecnológicas são incríveis.
Apesar de tudo isso é importantisso avaliar como anda a nossa relação com o outro com toda essa tecnologia, tem gente hoje em dia que só se comunica com os outros através de uma tela e um teclado, além de analisar também a nossa dependência das tecnologias…. bem… apesar das 'maravilhas' que surgem elas tem que ser pesadas e muito bem pensadas em relação ao impacto que elas causam.
abaixo tem algum material e umas curiosidades
http://www.decom.ufop.br/prof/guarda/CIC250/ http://www.brainstorm9.com.br/2008/12/19/realidad… http://realidadeaumentada.com.br/home/index.php?o…
e se for começar a falar de tecnologias ligadas a computação… acho que podemos ficar por aqui alguns dias conversando =D
Grande abraço de um computeiro!
@Joey, é como no filme que vi este fim de semana, Shine: Brilhante (que tradução de título mais horrível é essa?!), em que o professor de David Helfgott lhe ensina: "primeiro aprenda as notas na partitura e depois as esqueça".
<img src="http://www.cartacapital.com.br/uploads/destaques/1257520129190.jpg" style="float:right;" />@Samuel, meu caro, estes dias fiquei impressionado com a perspectiva do jogo Heavy Rain, a ser lançado para PS3 em 2010 (é bem provável que eu compre esse jogo). Inteligência artificial é um tema muito interessante, embora eu não conheça muito bem. Esta semana saiu uma matéria interessante na CartaCapital sobre os novos robôs e a perspectiva de se criar ginoides para tarefas domésticas e até sexuais:
http://www.cartacapital.com.br/app/materia.jsp?a=…
Hoje mesmo estou escutando o Nerdcast sobre Isaac Asimov e suas leis da robótica. Li alguns contos dele e são fascinantes:
http://jovemnerd.ig.com.br/nerdcast/nerdcast-186-…
Histórias como Matrix, A.I., Blade Runner etc. me levam a conjeturar sobre os possíveis efeitos do possível surgimento de personalidades "artificiais". Até tenho um rascunho de um texto a ser publicado em breve por aqui… 😉