Racismo no Rio Grande do Norte
Para visitantes de alguns outros lugares do Brasil, o Rio Grande do Norte parece um estado branco, caucasiano. A um colega de trabalho nascido na Bahia, Natal aparentou ter muito poucos negros. De fato, indivíduos de pele escura chamam atenção na região metropolitana, por serem raros. Luís da Câmara Cascudo, clássico historiador norte-rio-grandense, já afirmou em uma de suas obras que o Rio Grande do Norte se caracteriza por uma herança cultural lusitana, com quase nenhuma influência africana ou indígena.
Entretanto, uma incursão pela parte mais pobre da metrópole e pelo interior do estado revela uma discrepância com essa afirmação cascudiana. Na realidade, a negação racista de Cascudo se reflete numa situação de desprezo pela população cujo fenótipo é discriminado, menosprezado, vilipendiado e tem a existência obscurecida, como se fossem fantasmas estrangeiros indesejados que se tentam ignorar.
A luta discursiva no meio político-intelectual brasileiro em torno das questões referentes ao racismo nos últimos tempos tem feito aparecer um certo posicionamento de acordo com o qual o Brasil precisa assumir que é racista e, por isso, precisa instituir legalmente a diferença racial, para que se implementem políticas que “tratem de modo diferente os desiguais”. É dessa corrente a proposta de se criar as cotas raciais nas universidades.
Doutro lado, há aqueles defensores de que o Brasil não é uma nação racista, e cujo ideário é resumido no título e no conteúdo do livro Não Somos Racistas, de Ali Kamel. Para estes intelectuais, não se trata de negar que há racismo (seria um absurdo ignorar as situações cotidianas de racismo em todo o Brasil), mas de entender que não há um verdadeiro apartheid que justifique a criação de identidades raciais. Estas sim, segundo eles, criariam uma cisão racial incompatível com nossa predisposição à mestiçagem.
Embora tenda a concordar mais com a segunda posição (sou contra a manutenção da ideia de raças humanas e penso que a discriminação brasileira é mais sócio-econômica do que fenotípica), considero que é preciso prestarmos muita atenção ao fato de que os brasileiros temos ainda uma mentalidade racista.
Sou propenso a acreditar que a discriminação tem um caráter misto: tanto se deve considerar o preconceito baseado na situação sócio-econômica quanto aquele propriamente racista, em que alguns caracteres fisionômicos são motivo de diferenças na autoestima dos indivíduos (crianças pobres brancas e de olhos azuis são consideradas mais bonitas do que crianças pobres negras e de olhos pretos).
Em minha experiência profissional no INCRA, presenciei, testemunhei e ouvi relatos de diversas situações de racismo no Rio Grande do Norte, em cidades do interior e na zona rural, de diversas naturezas, tanto tênue quanto violentamente simbólicas e exemplares de uma realidade ignorada e mal-compreendida. Relaciono abaixo algumas dessas situações.
“Cuidem bem dos meus negrinhos”
Às vezes se pensa que a abolição do preconceito se dá pelo tratamento cortez das vítimas de tal preconceito. É isso o que acontece quando se diz que o homem não-machista tem que aprendera ser cavalheiro e tratar bem as mulheres. Na realidade, o cavalheirismo faz parte da ideia machista de que as mulheres precisam de cuidados especiais porque são mais frágeis, o que justifica que elas tenham suas liberdades mais confinadas do que as dos homens e tenham menos poder de escolha em situações sociais.
Assim, quando um prefeito de uma cidade do interior do RN solicita que os funcionários do INCRA “cuidem bem dos meus negrinhos”, referindo-se a uma comunidade negra rural que se identifica como remanescente das comunidades dos quilombos (de acordo com o Decreto 4.887/2003) que solicitou ao governo federal a regularização de suas terras, ele tenta esconder o racismo num afirmação que afeta um tratamento cortez.
A expressão “meus negrinhos” (pronunciada mais aproximadamente “meus ‘neguinho'”) sugere uma relação de posse, como se os negros em questão fossem menos do que cidadãos livres do município e estivessem mais próximos da situação escravizada de seus antepassados africanos, considerados menos humanos do que os europeus. É como se os negros em questão fossem mais uma atração exótica do município, que deve ser preservada pela curiosidade que desperta e não pelos direitos humanos que implicam.
“Vai ter negro morto aqui!”
No mesmo município, um agricultor acusado pelos referidos quilombolas de promover esbulhos sobre as terras destes, ao saber da intenção do INCRA de desapropriar seu imóvel para restituí-lo à comunidade negra, bradou: “Se quiserem tomar minha terra, vai ter negro morto aqui!”
Outro proprietário, em tom mais manso mas tão violento quanto o anterior (que escutei de segunda mão), falou-me algo mais ou menos assim:
Minha terra é legalizada, pois meu advogado disse que o que vale é o registro, não é assim? Eu registrei minha terra, ela é minha. Se esses negros quiserem pegar minha terra eu tomo o resto das terras deles todinho e ainda mando dar uma surra neles… não é assim que se fala?
Deplorável discurso. Os negros que habitam há séculos aquelas terras, por não terem o “documento”, são obrigados a se sujeitarem aos proprietários mais ricos e influentes, como se suas terras estivessem ali para ser tomadas livremente, da mesma forma que se alugam seus corpos para os trabalhos braçais. Como se negros e terras de negros fossem frutos virgens da natureza, a ser domesticada por qualquer um que apareça, e, em alguns casos, a ser eliminados como uma erva daninha indesejável.
“Não se preocupe, ela não é negra”
Numa loja de roupas, vi na sacola com as peças que acabara de comprar que o estabelecimento se chamava Nelice. Perguntei à funcionária se era o nome da dona. Ela me disse:
É, por quê? Você pensou que ela era negra? Não se preocupe, ela não é negra, não. É a mistura de Alice com Nenê, o marido dela…
Eu disse que nem tinha pensado nisso, e perguntei qual seria o problema de ela ser negra, ao que a moça riu, sem graça. Se tivesse pensado melhor naquele momento, teria complementado:
Sinto muito, jovem, mas você está desatualizada. Talvez essa piada fosse engraçada para os seus pais ou os pais de seus pais, provavelmente brancos, a julgar pela sua pele e seus cabelos. Mas já não tem tanta graça menosprezar as pessoas por terem muita melanina e/ou cabelos crespos.
Má distribuição de eletricidade
A Comunidade Quilombola de Capoeiras, cujo território é objeto de regularização pelo INCRA no RN, certa vez veio até mim, representada pelo presidente da associação comunitária, solicitar alguma intervenção no seguinte caso: a COSERN (Companhia Energética do Rio Grande do Norte, órgão estadual responsável pela distribuição e manutenção de energia elétrica) havia instalado postes dentro do território da comunidade só para servir uma casa, pertencente a um agricultor que não fazia parte da comunidade, e fez a instalação sem consultar os quilombolas.
Infelizmente o INCRA não podia fazer nada, mas eu lhes disse que deveriam ir reclamar na própria COSERN. Trata-se de um caso típico de racismo institucional, ou seja, um grupo de pessoas é prejudicado nas ações de uma instituição devido a um preconceito étnico. Há aí o benefício de um grupo em detrimento de outro, uma valorização social maior do primeiro.
A comunidade quilombola de Capoeiras, devido a sua história de exclusão, ficou muito tempo isolada da sociedade ao seu redor, até mesmo se tornando invisível socialmente. O preconceito racial manifesto pela instituição em questão provavelmente se baseou num conjunto de estereótipos atribuídos aos negros, como por exemplo o de gente brava que expulsa os intrusos brancos. Ao se negar a consultá-los numa ação que implicaria sua liberdade, acabou provocando a indignação (justa) que tentaram evitar.
O lixo do outro
Como no último caso, a Comunidade Quilombola de Acauã sofreu durante algum tempo do racismo institucional da prefeitura de Poço Branco. Neste caso, o caminhão responsável pelo serviço de coleta de lixo costumava passar pela Comunidade sem parar para pegar seu lixo, que ia se acumulando numa pilha enorme de sacos, podridão e fedor.
Como é que uma instituição que existe para servir os cidadãos do município comete ao mesmo tempo um crime ambiental e um crime de racismo ambiental? Foi necessário que o advogado (que trabalha voluntariamente) da comunidade fosse até a prefeitura prestar queixa para que ela passasse a recolher o lixo do pessoal de Acauã e permitir que eles gozassem de sua dignidade.
Ideal
A história recente do Brasil (que ainda tem uma história curta) deixou em péssimas condições os descendentes dos escravos de todas as cores. A nação mestiça tem um ideal, chamado por Gilberto Freyre de democracia racial (conceito criticado pelos movimentos favoráveis à institucionalização da identidade racial), de sociedade sem discriminações raciais, que prevê a igualdade de oportunidades para todos, independente de seu genótipo e seu fenótipo.
(Minha crítica à ideia de democracia racial é que, ao se falar de qualquer coisa acompanhada do adjetivo “racial” (“igualdade racial”, “política racial”, “identidade racial”), está-se trabalhando com a crença de que existem raças com características instrinsecamente segregadas, como se houvesse, por exemplo, três povos, os brancos, os índios e os negros, vivendo numa democracia em que cada um desses três tem os mesmos direitos e deveres que os outros. Mas isso é ignorar as transformações que a mestiçagem (genotípica, cultural, social…) traz para o conjunto dessa sociedade e para o todo da humanidade.)
Mas há pelo menos duas forças dificultando a superação das desigualdades: a divisão sócio-econômica, que mantém muitas das características escravocratas do Brasil colônia, e o desprezo pelo que não é europeu/”branco”/cristão. Este último está entranhado em nossas representações do mundo e será preciso muito trabalho de reeducação e pensamento crítico para construirmos a ideia de que não há raças humanas e, portanto, não se podem aferir os potenciais dos indivíduos de acordo com a cor da pele, a textura do cabelo ou o formato do crânio; tampouco a beleza deve sofrer interferência de ideias absurdas como a que desqualifica totalmente a aparência de uma mulher por causa dos cabelos crespos ou de um homem por causa do nariz achatado.
21 comments
A do "não se preocupe q ela não é negra" doeu.
=
triste encontrar pessoas assim.
agora, eu uso o termo "nego" o tempo todo, pra generalizar indivíduo ou pessoa qualquer…
"agora nego esquece dos escandalos, e vota nos mesmos figuras."
estaria nesse post se vc tivesse me ouvido dizer algo assim?
rsrsrsrs
é mesmo uma pena que o racismo esteja tão arraigado em nossa alma potiguar e pena maior ainda que continuemos de face velada para isso.
o texto é ótimo e a discussão perene.
abraço!
Hehe, essa gíria de mineiro… @Mr. T, tenho outro amigo mineiro que mora aqui em Natal e que fala "nego" como sinônimo de "alguém", "uma pessoa" etc. Há pessoas daqui mesmo que usam essa expressão. É talvez a melhor tradução para o "one" inglês. Traduzindo sua frase: "now one forgets the scandals and votes for the same candidates". Já perdeu totalmente o sentido racial.
Aliás, chamar alguém de negro não é necessariamente racismo: pode ser só uma referência a um tipo físico, uma cor da pele. Se fosse em si mesmo racismo, teríamos que evitar falar em "loiras" e até a falar da cor dos olhos de uma pessoa. O contexto em que a palavra aparece é que determina seu conteúdo racista, como naquele caso recente dos estudantes de medicina que bateram num ciclista chamando-o de negro: usaram o termo com intenção de ofender, ou seja, assumindo que ser negro é ruim.
Obrigado, @Theo. Mas espero que essa discussão não seja perene. 🙂
Quanto a idéia de Câmara Cascudo aparentar minimizar a componente africana na formação do povo do RN, é relevante o fato dele ter sido integralista (e nunca ter negado isso) ? Acredito que sim.
Não entendi o ocorrido na quilombola, a população local se revoltou por conta dos postes de luz só beneficiarem uma única pessoa, ou a revolta era pelo fato do estado se fazer presente ali sem os pedir permissão?
Caso tenha ocorrido a segunda hipótese, então é mais um exemplo de que identidade racial só gera separação.
No que diz respeito a como eu vejo a questão racial no Brasil, eu concordo com você. Existe sim racismo, mas hoje há mais ainda preconceito contra classes sociais, e identidade racial não é algo positivo (só gera separação).
Acho que muito da formação de nosso povo do RN precisa ser estudado (ou reestudado), por exemplo: é comum encontrar em comunidades miseráveis como no maruim e na linha do trem próximo a ponte de igapó, negros de olhos azuis e cabelos crespos e um tanto amarelados! Não que isso denote qualidade mas e incomum encontrar tais características na maioria das pessoas e me pergunto como se formou essa população? Com certeza miscigenação, será que foi pacífica (a pobreza aproxima as pessoas) ? Ou foi forçada (estupros, ou uma ideologia de melhoramento da raça através da miscigenação para diminuir a componente negra) ?
São questões curiosas que eu adoraria ler mais a respeito e se você souber de algum estudo sobre o tema por favor me fala.
PS: Parabéns pelo "post", esses assuntos são interessantes demais, e é importante sempre debater sobre isso (assim saímos da inércia).
Eu trabalhava como desenhista numa fábrica de botões, e uma vez vi um negro e um branco discutindo, cada um defendendo sua "raça" (quem tem raça é cachorro) e atacando as características do outro; então me meti (sou metido) e disse: sou filho de um negro com uma branca, não sou parecido com nenhum dos dois, nem preciso ser, essa discussão de vocês é ridícula, deveríamos ser todos irmãos.
Só pra constar, não é exatamente uma gíria mineira, visto que sou paulista e a uso a um bom tempo. pode ser uma gíria do Sudeste. XD
E vc falou muito bem sobre a palavra e sua aplicação. me lembrou de um acontecimento relativamente recente e um fato particular.
O acontecimento foi qdo tentaram me chamar a atenção no orkut, depois que eu disse algo com "judia" no sentido do verbo judiar.
sujeito me disse para evita-lo, pois remetia ao sofrimento Judeu e ao preconceito.
não sei da origem etimologica da palavra, mas não sei se é o suficiente para tamanha preocupação. (e sim, continuo utilizando-a normalmente)
O fato particular é por minha cor de pele, (muito) branco com sardas, e cabelo ruivo (q eram MUITO mais na infância), sofri provocações e escárnio durante todo o período escolar de minha vida. exceto, apenas, na universidade.
considerando o baixíssimo número de pessoas com essas características no país, considero (normalmente como brincadeira) ruivos, a verdadeira minoria. hehehe
Deveriamos ter cotas nas universidades, filmes e novelas.
A idéia de que somos uma "democracia racial" faz parte de um mito muito bonito, construído nas primeiras décadas do século XX e que não deixa de ser uma representação do Brasil que gostaríamos de ser, mas não somos. O problema do mito é que em vez de servir como um ideal a ser alcançado ele é, muitas vezes, apresentado como uma realidade concreta. Um fato. Não somos racistas!
Eu até concordo que "raças humanas", biologicamente falando, não existem, mas não vejo isso como um problema para o uso da palavra "raça", que é muito mais antiga que o conceito científico incorporado à ela no século XIX. Que outro termo daria conta de substituí-la? Etnia?
Eu confesso que me sinto muito incomodado quando leio e ouço pessoas como Demétrio magnoli e Ali Kamel chegando a conclusão _ para mim ilógica _ de que se não existem "raças" não faz sentido defender a adoção de políticas afirmativas baseadas nesse conceito, como se, já que não existe raça, também não existe racismo.
@AmBAr Amarelo, o integralismo de Cascudo certamente é relevante. Ele representa a ideologia tradicionalista da elite euro-descendente. Mas acho ainda mais relevante o fato de que, antes de se unir ao integralismo, ele era monarquista.
Os quilombolas de Capoeiras se revoltaram por que não foram consultados numa questão que os afetou. Não sei se isso não ocorreria se a comunidade fosse branca, mas talvez ocorresse por que ela é pobre. Conjecturas… o fato é que tratar essa comunidade como se ela não tivesse direito de decidir sobre ações que afetam sua vida é uma discriminação.
Sobre os sararás (mulatos de cabelos claros) serem produto de miscigenação, é preciso lembrar que toda a humanidade é produto de miscigenação: a partir do momento em que 2 pessoas com DNA e história pesoal diferentes (mesmo que pertençam à mesma etnia) produzem um zigoto, já há mistura.
Leia o livro Divisões Perigosas: Políticas Raciais no Brasil Contemporâneo, organizado por Peter Fry, Yvonne Maggie, Simone Monteiro e Ricardo Ventura Santos. Nele você pega outras indicações bibliográfias.
@Adriano, felizmente esse tipo de situação é raro, mas é uma manifestação do racismo que carregamos. Um pouco de pesquisa mostra que as diferenças biológicas entre as "raças" humanas é tão superficial (está mais relacionada a cores e formas do que à fisiologia) que qualquer ser humano do mundo criado em qualquer lugar (isso se ignorarmos os preconceitos que podem servir de obstáculos) terá as mesmas chances de se desenvolver física, emocional e intelectualmente. As diferenças que pode haver entre uma pessoa e outra são individuais, nada tendo a ver com sua "origem".
@Mr. T, se formos buscar a etimologia de tudo, descobriremos muitas barbaridades. Por exemplo, se hoje a palavra cretino tem uma conotação negativa e ofensiva, ela surgiu como eufemismo: na França medieval, chamavam os deficientes mentais de Chrétiens (cristãos), palavra que depois se transformou em crétin e foi exportada para outros idiomas.
"Moleque" antigamente era a denominação de meninos negros. Depois se tornou uma referência a qualquer menino levado. Hoje já se usa como sinônimo de menino de qualquer cor e temperamento.
Sobre os ruivos, brincadeira à parte, não dá para falar em discriminação racial, pois não há um grupo humano ruivo. Mas são tão discriminados que a cor do seu cabelo já foi associada ao Diabo e à bruxaria.
@Eduardo, realmente, a democracia racial é um mito. Mas eu a considero uma ideia ainda mais irracional devido ao fato de se referir a uma suposta harmonia entre "raças" que não existem de fato (ou não deveriam existir nas mentes).
É perigoso levantar a ideia da harmonia racial como se fosse uma realidade no Brasil, pois não podemos negar que há racismo. Porém, é um racismo diferente daquele encontrado nos EUA, deve ser abordado de forma diferente das políticas antirracistas norte-americanas.
Sobre o uso do termo "raça", sou favorável à sua extinção quanto à aplicação a seres humanos, não só pelas evidências biológicas, mas como um posicionamento político. Inclusive, é uma ideia que, penso, deverá ser descartada mesmo quando estivermos convivendo com espécies extraterrestres.
Etnia não substitui raça nesse sentido, pois não está ligada necessariamente a aspectos físicos. Mas são ambas realidades construídas socialmente. E da mesma forma a etnia não deveria, num mundo ideal, servir de empecilho para o acesso aos direitos humanos. Afora tudo isso, o que acho que ainda pode sobreviver sem muitos problemas é a identidade que cada um adota para si mesmo (baseada em aspectos físicos ou culturais…) e que não implica de maneira alguma em tratamento desigual.
O (ir)raciocínio segundo o qual não há racismo já que não há raças se pauta numa falha lógica, realmente. Mas eu vejo a questão de outra forma: se não há raças, não deveria haver racismo. O racismo é resultado da crença em raças. Enquanto houver discriminação pautada em critérios raciais, haverá racismo.
Talvez algumas políticas com enfoque racial tenham resultado positivo, quando se trata de âmbitos em que a "raça" é critério de acesso aos direitos. Aí é preciso mesmo que os governos tomem medidas para que pessoas não tenham a saúde, a educação e outros direitos negados porque são "negros", "índios" ou "ciganos".
Mas sou a favor de políticas universalistas para a maioria das questões abordadas pelo Estatuto da Igualdade Racial, por exemplo. Não acho que cotas raciais na universidade sejam uma boa ideia, por diversos motivos que não somente o mérito. Talvez as cotas sejam um tema que merecem um post completo aqui na Teia…
Por favor Thiago, faz um 'post' sobre as cotas raciais 🙂
Sim, o mito da democracia racial brasileira prejudicou por muitos anos as discussões em torno do nosso racismo. É um mito, não é uma realidade, mas é um mito que fala um pouco sobre como o Brasil foi idealizado pelos seus inventores. Somos um dos poucos países, se não o único, que em seus mitos fundadores concebe a miscigenação entre as raças (inclusive culturalmente) como um valor. EUA ou Argentina, só para citar alguns exemplos, não se pretendiam nações multi-raciais em que brancos, negros e índios dividissem harmoniosamente o mesmo espaço compartilhando dos mesmos direitos e deveres.
tempos atrás encontrei no Youtube um vídeo de 1936, produzido nos EUA sobre Rio de Janeiro. Um belo vídeo, aliás. Lá pelos 5 min. e 30 seg, enquanto a câmera filme filma o calçadão de Copacabana, destaca uma menina branca sentada no colo de sua baba negra. Neste momento o narrador aproveita para dizer aos espectadores estadunidenses que no Brasil pessoas de todas as cores convivem harmoniosamente. É o nosso mito fundador nas telinhas norte-americanas.
Quanto as cotas para o acesso a universidade, é realmente um tema polêmico. Eu pessoalmente sou favorável, mas já fui contra por muito tempo. Mudei de idéia quando percebi que seus objetivos vão muito além do indivíduo beneficiado por ela.
Aqui em São Paulo, falando em termos de cor de pele, as ruas são um explosão de cores, mas se você for a um restaurante um pouquinho mais caro, ou num desses barzinhos badalados, só verá clientes brancos. Negros ou pardos, quando muito, só garçons ou manobristas. O mesmo acontece em praticamente todos os espaços culturais que não ficam nas periferias, como cinemas e teatros. As livrarias paulistanas, então! São de uma freqüência praticamente nórdica. Médicos, engenheiros ou dentistas pardos e negros são raros. Acredito que a questão seria formar uma elite econômica não branca (já que existe uma elite predominantemente branca). Neste ponto de vista as cotas serviriam como um instrumento para "colorir" todos os espaços e classes sociais no Brasil, e não apenas a rua.
Thiago, a julgar pela qualidade impecável dos seus textos, um post sobre Cotas seria imperdível.
@Eduardo, é por considerar que o problema maior é a desigualdade de classes e não a de "raças" que sou contra as cotas. Talvez houvesse algum resultado positivo na criação de uma "elite negra". Mas isso, ao meu ver, é uma forma de anuir com as desigualdades sociais.
De fato, a mudança seria pouca, pois ainda existiriam, na mesma proporção, ricos e pobres separados em dois mundos. Só mudaria a cor desses mundos.
Bem, desenvolverei mais sobre isso num texto completo. Em breve…
Racismo no Brasil? Racismo no Rio Grande do Norte? Existe mesmo? SIM e como existe!!!!
O sentimento de superioridade ainda prevalece…até quando? Não sei.
E o Cascudo…bom…ainda bem que outros vieram e reescreveram informações principalmente sobre negros e indígenas.
E sobre o lixão ao lado do Quilombo de Acauã basta acessar o link
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Agora é preciso ter estômago forte para as cenas.
Abraço e parabéns pelo trabalho.
Não sei se muda algo na interpretação (ainda seria, no mínimo, uma injusta diferença de classes sociais, se é que posso chamar assim), mas a questão do posteamento da COSERN, pelo que sei, funciona assim:
1) Você compra os postes, fios, transformadores, etc. e manda instalar (não sei se pela própria COSERN). Em vez de esperar que o posteamento chegue naturalmente;
2) Você doa tudo à COSERN e ela passa a ser responsável pela manutenção.
De qualquer forma, isso não tira a responsabilidade de respeitar a propriedade alheia. Só não sei de quem seria a obrigação. Acho que da COSERN mesmo.
Como assim estado caucasiano?O pessoal do Rio Grande do Norte não são nem aparentemente branco e tem apena a pele clara e eles grande herança genética indígena sim e é só olhar na cara e corpo deles…
Mas no Brasil é só ter apele clara para forjar o branco.
Como assim estado caucasiano?O pessoal do Rio Grande do Norte não são nem aparentemente brancos e tem apenas a pele clara e eles tem grande herança genética indígena sim,e é só olhar na cara e corpo deles…
Eles não parecem nem um branco primitivo são visivelmente MESTIÇOS…
Mas no Brasil é só ter apele clara para forjar o branco.