Universidade sem universalismo

Gérson é um jovem branco que gosta de usar a cabeça raspada e costuma ostentar coturnos militares, calças verdes camufladas e uma camiseta branca com a suástica estampada. Certo dia, começa a receber vaias dos colegas de sala na universidade em que estuda. O professor faz uma piadinha sobre a roupa dele. Gérson se levanta e sai da sala, acompanhado de vários colegas que iniciam um coro de protesto contra o estilo imoral do rapaz.

Rapidamente, alunos de outras turmas saem das outras salas para engrossar o linchamento e gritar “racista!”, “nazista!”. Os amigos de Gérson se aproximam dele para protegê-lo da massa enfurecida, enquanto vários alunos tentam tirar fotos dele para mostrar aos amigos a indecência a que algumas pessoas chegam. Depois disso, Gérson ficou abatido e apareceu na mídia, encenando um debate sobre moralidade na Universidade e regras de conduta no ambiente acadêmico. Alguns dias depois, é expulso da universidade.

Qual seria sua opinião neste caso? A universidade está certa? Gérson foi vítima?

Agora releia a história acima substituindo “Gérson” por Geisy, trocando as roupas militares por um vestido rosa-shock provocante e os gritos da multidão por “puta!”.

Esta foi a única forma que pensei para dizer alguma coisa nova sobre o caso Uniban vs. Geisy. Após sofrer o linchamento de um rebanho de universitários, Geisy assistiu ao linchamento de um rebanho bem maior contra a Uniban. A mídia e os blogs veicularam a opinião pública que defendeu a jovem e seus direitos a se vestir como quiser, e vilipendiou a postura moralista da universidade. Concordo em grande parte com essa opinião pública, mas suspeito que entre minha postura e a da opinião pública subjazem motivos ligeiramente diferentes.

A universidade errou. Ao apoiar uma horda de estudantes movidos por um moralismo hipócrita, a Uniban errou feio. Agiu contra o que a Universidade representa em seu sentido mais puro: um lugar para o desenvolvimento das ideias, da Ciência; um espaço para o exercício da liberdade de pensamento e, por extensão, da liberdade de expressão, da liberdade de ser e do convívio com a liberdade alheia.

Só que as universidades contemporâneas se tornaram um mercado de diplomas. A perspectiva de quem entra na academia é aprender técnicas que lhe permitam ser mais eficazes no mercado de trabalho. A técnica, o fazer, a Tecnologia, tem se tornado mais importante do que a Ciência, a Filosofia, as especulações com implicações e aplicações éticas.

Numa Universidade ideal, penso eu daqui de fora da universidade (já tendo passado por uma), Geisy poderia ser até um motivo para discussões sobre feminismo, sobre o corpo da mulher visto como objeto de desejo, sobre as tendências da moda… e ela mesma poderia participar dessas discussões.

Não seria essa Universidade ideal um lugar para as hipocrisias moralistas de nossa sociedade. Não seria um lugar para se demonstrar os preconceitos conservadores que não têm mais razão de existir no mundo moderno. Não seria um lugar para um jovem como Gérson manifestar sua ideologia neonazista (se é que ele era realmente neonazista; talvez estivesse só querendo provocar e testar a reação dos colegas), tampouco para a manifestação incivilizada dos preconceitos contra os neonazistas.

Não seria o lugar para uma jovem como Geisy se aproveitar das reações esperadas da maioria dos homens (e mulheres) quando veem um certo tipo de corpo vestido com um certo tipo de roupa (se é que ela estava fazendo isso; há muitas mulheres que gostam de se vestir assim e de se sentir bonitas, o que não quer dizer necessariamente que gostam de ter sua beleza apreciada; porém, é bem provável que estivesse fazendo isso mesmo, mas automaticamente, quase como uma obrigação autoimposta, imposta pela cultura interiorizada em seu inconsciente, uma conduta esperada, assim como os olhares desejosos dos homens eram esperados).

A história da mulher adúltera levada a Jesus para ser apedrejada (João, capítulo 8, versículos 3 a 7) deve ser lembrada para pensarmos o caso de Geisy na Uniban. Do que trata essa parábola? Uma mulher cometeu adultério e uma multidão enfurecida de homens a leva a praça pública para puni-la por seu pecado, condenado pela antiga Lei de Moisés, dada a este por Deus. Jesus, sabiamente, diz as palavras que até hoje são significativas: “Aquele entre vocês que nunca cometeu um pecado atire a primeira pedra”. Ou seja, quem entre vocês está isento de ter cometido um pecado, do mesmo modo que ela cometeu? Só ela merece ser punida?

Mas a história não diz só isso. Algumas pessoas enxergam um outro nível de profundidade na fala de Jesus. A mulher traiu o marido. Isso a torna próxima à ideia que o moralismo puritano faz de uma prostituta (tanto é que muita gente se lembra dessa história achando que a mulher era Maria Madalena e que os homens a queriam punir por vender seu corpo). Ou seja, os homens estão ali descontando sua raiva numa mulher de cujo corpo muitos deles poderiam ter desfrutado. “Aquele entre vocês que nunca desejou essa mulher ou que nunca se deitou com ela atire a primeira pedra”.

Por que as mulheres sedutoras como Geisy são tão temidas a ponto de despertar a raiva vândala de um grupo de homens que visível e paradoxalmente a desejam? Talvez porque esses homens sejam tão inseguros sobre seu autocontrole que precisam despender uma quantia enorme de energia na destruição de seu objeto de desejo, pois têm medo de não conseguirem frear seus “instintos sexuais”.

Esses homens ainda a chamaram de “puta”. Ou seja, insinuaram que ela poderia ir para a cama com qualquer um deles. Então, para não admitirem que eles se rebaixariam moralmente procurando os favores de uma prostituta, optaram por expressar o ódio por ela.

<i>A Raposa e as Uvas</i><br />Esta Raposa tem desejo por uvas:<br />Ela pula, mas o galho está fora de alcance.<br />Então ela vai embora, amargurada<br />E, dizem, nesse momento<br />Declara que não gosta de uvas.<br />Moral: As uvas do desapontamento são sempre azedas.
A RAPOSA E AS UVAS // Esta Raposa tem desejo por uvas: / Ela pula, mas o galho está fora de alcance. / Então ela vai embora amargurada / E, dizem, nesse momento / Declara que não gosta de uvas. // AS UVAS DO DESAPONTAMENTO SÃO SEMPRE AZEDAS.

Certa vez notei que o ser humano, quando em grupo, tende a se comportar como um bando de macacos. Eles acionam o que algumas pessoas chamam de “modo chimpanzé”. (lembremos que o Homo sapiens compartilha mais de 98% do DNA com os chimpanzés). Já ouviram um bando de humanos fazendo uma algazarra e soltando uns gritinhos agudos (“íu!”) que lembram o guincho dos chimpanzés? Pois é, como disse K, em Homens de Preto,

O indivíduo é inteligente, a multidão é burra.

E foi burra a multidão de estudantes da Uniban, por tudo o que eu disse acima e por tudo o que muita gente já disse por aí. Mas também foi burra por outra coisa. É que não creio que todos os “manifestantes” do linchamento soubessem o que estava acontecendo naquele momento. A maioria das pessoas, quando vê um grupo se formando, tem o impulso curioso de saber o que está acontecendo e, se possível, de participar (se muita gente está reunida para algo, deve ser coisa boa!). Então, aqueles que iniciaram os “protestos” foram idiotas. Aqueles que se juntaram por afinidade à causa foram imbecis. E aqueles que se juntaram à multidão por impulso de bando foram estúpidos.

A Uniban foi burra ao expulsar Geisy, mas foi extremamente coerente. Afinal, se esses estudantes são o fruto podre da Uniban, esta é uma árvore doente. O moralismo dos alunos reflete a instituição moralista que os está preparando para o mundo.

Agora a universidade voltou atrás na decisão de expulsar a aluna. E talvez a mais burra nesta história seja Geisy, se ela aceitar voltar.

Créditos

  1. A imagem no início do texto é um trecho da pintura Jesus e a Mulher Adúltera, de Vasily Polenov.
  2. A segunda  imagem é uma página do livro Baby’s Own Aesop, de W. J. Linton, escrito em 1887 e ilustrado por Walter Crane.

12 comments

  • Olá Thiago,

    Realmente foi estúpida a atitude dos alunos da universidade e da Uniban, pois estava claro, desde o princípio, o falso moralismo.

    Você cita o papel deturpado do modelo atual de universidade no texto, que seria de somente atribuir uma habilidade ou qualidade técnica ao formando e não de despertar o "ser pensante" que todos temos o potencial de nos tornar. Acho interessante ressaltar que acredito que a Universidade, aparentemente, de fato deixou de ser o local de criação e filosofia de outras épocas. Alunos recém admitidos em um curso de graduação vem treinados do colégio ou cursinho pré-vestibular, prontos para serem avaliados mediante seus esforços, mais do que em relação ao quanto aprenderam e se desenvolveram. Por diversas vezes pude conviver, nas monitorias e aulas que dei, com alunos que esperavam uma aprovação na disciplina por medidas "méritocráticas". Ficam cheios de "mas eu fiz isso e aquilo, e todos aqueles relatórios e todas as 300 listas de exercícios e tudo o mais, para tirar só isso na prova?!" ao passo que respondo, "mas, em algum momento, dentro de todo seu trabalho hercúleo, você parou para pensar o que estava fazendo?". Geralmente, tenho um "ah…" como resposta.

    E desculpe-me, desviei-me do sentido original do seu texto, rs!

    Abraço e inté!

  • Excelente texto, este seu!

    Muito embora tenha minhas reservas em relação ao aforismo do senhor K, "o individuo é inteligente, a multidão é burra”, este, reproduzido e assimilado um pouco apressadamente por você. E ao refletirmos de uma maneira mais demorada e detalhada sobre esse aforismo, percebemos dois tipos de pressupostos problemáticos nesse tipo de “sentença” enunciativa.
    O primeiro pressuposto refere-se a uma imagem do individuo, enquanto categoria distinta do coletivo, como um ser portador de uma “inteligência” ou “racionalidade”, algo como dado e indiscutível na tradição racionalista dominante nas sociedades modernas. Além disso, há também uma associação valorativa direta entre “razão” e “bem” que guarda suas raízes genéticas na doutrina moral platonista da “ética da razão”. Eis que temos os estudos sobre o inconsciente desenvolvidos pela psicanálise que questionam fortemente essa tradição racionalista, ainda que preserve uma aposta unidimensional na “integridade” da Razão.

    O segundo pressuposto que também está expresso na fala do senhor K, “(…) a multidão é burra”, também incorre num erro similar ao primeiro pressuposto supracitado. Mais exatamente, na “personalização do coletivo”, isto é, a atribuição de “qualidades” individuais a um grupo social coletivo. A “massa” seria entendida enquanto um “novo” ser psíquico com um modo de pensar, invariavelmente, “burro”. Aqui novamente, teríamos um posicionamento valorativo em relação às formas de coletividade, cujas origens históricas de tal representação estão ligadas ao que Charles Taylor classificou como sentido de “interioridade”, um dos elementos constituintes da identidade moderna e que vai interpretar depreciativamente formas de comunitarismo coletivo existentes nas sociedades “tradicionais”.

    Feitas essas ponderações, parece razoável defender a idéia de que aquele aforismo representa mais uma forma de afirmação do individualismo moral enquanto Ideal de bem viver a ser perseguido por nós, modernos. E que ao depositar suas expectativas éticas num individuo isolado e racional, incorre numa postura naturalista e pré-reflexiva. Dito isso, creio que antes de atribuímos tentações “diabólicas” ou “selvagens” às diferentes formas de coletividades, deveríamos pensar também, talvez, nas tentações autodestrutivas do individualismo que perpassa cada um dos jovens estudantes que agrediram a também jovem moça estudante universitária. Afinal, lembremos que foi Maquiavel e Hobbes que nos alertaram para as “paixões” desenfreadas dos indivíduos. E estes dois pensadores, creio, não estavam tendo em mente, ações de sujeitos coletivos.

  • Oi, Thiago,

    Realmente, a multidão é estúpida. Mas não há comparação com os chimpanzés que são tão dóceis… Vou defender os chimpanzés: há sim disputa entre grupos por território, e entre machos e fêmeas, mas nestes casos, em geral, a ação é feita para fazer com que o outro desista de um objeto disputado. Qual seria o objeto de disputa no confronto Geyse X estupradores? Mais parecia que a Geyse era o objeto de um prazer que só poderia se consumar em bando. Uma espécie de presa cujo sabor só se revela se apreciado em horda. Note-se que não foram só os meninos que a perseguiram: foram os meninos e meninas. E mais: creio que as imagens podem levar a uma ilusão sobre o papel dos meninos. Eles aparecem à porta e subindo as janelas, mas precisamos notar que as meninas fizeram o papel fundamental de apontar a vítima e estimular que os meninos cumprissem o seu "papel de machinhos". Se você tem um cão adestrado na coleira – um pit bull – e aponta a vítima e solta a coleira, o culpado do que se segue é somente o cão?

  • @Pescador
    Oi, Pescador, concordo em parte. Acho que certas coisas são usadas só como retórica. Isso não é ruim, é só um desabafo, e todos precisamos desabafar. Proceder de forma analítica mataria o desabafo. Um desabafo é um insulto. Imagina que se em vez de eu dizer pra alguém: "você é um filho da puta" eu começe a dizer algo do tipo "a tua geração parental me parece que tem algo que é discutível moralmente, apesar de que é também discutível se o fato de que a tua geração parental tenha algo de discutível moralmente tenha algum mérito no caso de eu achar que você tem algo de discutível moralmente, pois não é fato que a constituição moral e uma pessoa seja passada na sua reprodução juntamente com características físicas. No entanto, o caso não está decidido, pois pode-se pensar que defeitos morais sejam repassados pela educação. No entanto, como o próprio conceito de imoral tem camadas e camadas de construção simbólica…" e por ai vai…

    às vezes agente precisa chamar alguém de FDP, e isso não é levado a sério, assim como chamar a multidão de burra.

    Mas entendo que a discussão seja pertinente pra você. E concordo, além disso, que a discussão é pertinente (é pertinente para mim também): multidão é diferente de indivíduo, ou há algo do indivíduo na multidão e há algo da multidão no indivíduo? Acho que dificilmente a discussão se resolverá no abstrato, assim, se bem que precisamos de exemplos que possam ser generalizados. É preciso – acho – que comparar isso com outros fenômenos similares. Por exemplo, há poucos dias, uma estudante foi estuprada numa escola. Outro fato que eu acho comparável: outro dia mesmo, vi na BBC um vídeo de uma aldeia na Índia onde as pessoas estavam linchando mulheres identificadas como bruchas. Aqui perto de nós, e especificamente em comunidades universitárias, temos os trotes violentos e a tal da festa na veterinária-usp em que todos se voltaram contra um casaql de garotos que se beijou. Creio que estes fenômenos são comparáveis pelo fato de que uma multidão identifica e se volta contra uma vítima numa ação conjunta que não precisa ser combinada de antemão (um tipo assim de crime não premeditado). Creio que comparar o que esses eventos tem de similar e o que eles têm de diferente nos leva mais longe que uma discussão abstrata da natureza humana. Cada vez mais me convenço que querer chegar à natureza humana é como querer chegar ao horizonte. Que ele existe, existe, mas não se trata de um lugar, mas do limite do que podemos enxergar, dada a conformação do corpo celeste que habitamos. Assim também a conformação da nossa linguagem acaba impondo os limites dessa discussão, pois ela própria está também na horigem desses conceitos.

  • Pois é, @Joey bem Temperado. É por essas coisas que acho que, antes de se pensar nas controversas políticas de cotas (sejam por critérios sócio-econômicos ou raciais), é preciso repensar o vestibular. Este não atesta a vocação acadêmica de ninguém.

    @Pescador, estou ciente dos riscos de se tomar um aforismo de forma apressada. A frase em questão pode servir para vários propósitos, dependendo do que se toma por "indivíduo", "inteligência", "multidão" e "burrice".

    Neste trecho do texto, eu deixei um pouco de lado, quase de propósito, a atitude crítica mais séria e procurei ser mais metafórico, mais metonímico. Usei a frase para me referir ao fato de que, em meio a uma multidão voltada para um objetivo, tendemos a perder, em nossas ações, a individualdade. Somos arrebatados pelo clima festivo de uma plateia, somos puxados pela corrente que, de fora, se comporta como um ser diferente da soma das ações dos indivíduos que a compõem.

    Meu enfoque estava mais na segunda parte da sentença: "a multidão é burra". Em grupos pequenos talvez isso não se aplique, mas, numa massa como a que foi formada no linchamento a Geisy, há um comportamento coletivo que obscurece os comportamentos individuais. Toda a soma da riqueza mental existente nos indivíduos ali aglomerados é reduzida a uma ideia, mesmo que em alguns casos seja uma ideia nobre, mas essa ideia está empobrecida.

    Baseio-me aí na experiência pessoal, e não quis me delongar na análise da natureza ilusória dessa realidade. Obrigado por fazer isso. 🙂

    Como você, não concordo que tudo isso seja natural. Mas compartilho dos ideais modernos que veem na liberdade individual um valor mais importante do que a prisão da massa (eu devia ter citado Nietzsche). E até considero que a proposta de Hobbes, de juntar os indivíduos sobre um poder soberano, é uma forma de nivelar por baixo os indivíduos.

    Olhe, @Flavia, talvez os bonobos sejam dóceis (e ainda assim porque encontraram meios de socabilidade que arrefecem os impulsos destrutivos), mas os chimpanzés têm momentos de ferocidade impressionante. Mesmo nos casos que você citou, continuam sendo animais irracionais que não refletem sobre as ações que estão tomando, do mesmo modo que as multidões burras humanas.

    Mais parecia que a Geyse era o objeto de um prazer que só poderia se consumar em bando. Uma espécie de presa cujo sabor só se revela se apreciado em horda.

    A impressão foi essa. E seu comentário me fez lembrar com muita nitiez do mito da horda primitiva de Freud. Mas quem era o pai a ser morto?

    Acho que, primeiramente, não foram os meninos e meninas que empreenderam a perseguição, mas um bando com elementos masculinos e femininos.

    Sua última observação é bem pertinente. Da ordem sexual androcêntrica participam homens e mulheres, que perpetuam os valores da Guerra dos Sexos e os papéis dos dois (ou mais) lados desse conjunto de relações de poder. As vítimas são todos, todos são dominados pela cultura.

  • Ah, @Flavia, eu poderia ter me poupado de parte do meu comentário anterior se soubesse que você ia postar de novo… mas tudo se aproveita.

    Creio que estes fenômenos são comparáveis pelo fato de que uma multidão identifica e se volta contra uma vítima numa ação conjunta que não precisa ser combinada de antemão (um tipo assim de crime não premeditado).

    Concordo. Há um tipo de mente coletiva que é diferente das mentes individuais e funciona como um aliciamento invisível do grupo. Se extrapolarmos a ideia Durkheimiana de que o social é uma realidade diferente do individual, há boas chances de eu não estar falando nenhuma besteira… a não ser que muita gente comece a concordar…

    Gostei do neologismo horigem (horizonte + origem). 😀

  • Olá, Thiago. Só queria acrescentar que, sobre o último comentário, talvez a Geisy NÃO TENHA alternativa para completar o restante do semestre sem perdê-lo, tenha mesmo que engolir o orgulho, retornar e permanecer lá até completar o semestre.

    O que talvez devessêmos esperar dela é aproveitar esses cinco minutos de fama para tentar uma transferência sem perda do semestre, ou engatilhar uma nova faculdade assim que terminar o ano. É o que esperaríamos de qualquer pessoa ultrajada como ela foi e que tenha orgulho próprio.

    Lembre-mo-nos: as pessoas cometem ações incoerentes muitas vezes por comodidade ou por hábito. Talvez permanecer lá, no meio daquele bando de babuínos, possa até mesmo ser encarado como um tipo de desafio, um tipo de satisfação pessoal na base do "tá vendo, seus retardados, vocês tentaram me tirar daqui mas daqui eu não saio".

    Muita especulação, o futuro da moça só a ela pertence!

    Abraço!

  • Pois é, @Fernando, só a ela.

    Quis me referir à permanência numa instituição que agiu de forma preconceituosa, que perdeu prestígio no quesito ética. Eu não ingressaria numa universidade dessas.

    Mas você tem razão. E é preciso lembrar que Geisy é pobre e provavelmente não poderá arcar com uma mudança de universidade. a não ser que alguma outra instituição acadêmica se solidarize com ela.

    Sei lá…

  • Geisy é puta!

    Eu, um mero macaco, me incomodo com pessoas do tipo Geisy. Elas me tiram da condição de macaco-evoluído e me lembram que sou prisioneiro dos desejos carnais!

    Por não aceitar essa minha natureza, eu me enfureço, e grito com os demais.
    Sendo sincero, acho que se estivesse la teria participado da estéria coletiva!
    Eu NÃO ACHO CERTO isso, mas TEMO que se estivesse la teria feito a mesma coisa.

    Quanto ao neo-nazista, eu também teria feito a mesma coisa mas ACHARIA CERTO!

    Gritar com Geisy é ser macaco.
    Se sentir atraído por Geisy, mesmo fazendo força para ignora-la, é ser macaco.

    PS 1: Não quero ser macaco, quero evoluir.

    PS 2: Não gritar com o neo-nazista é ser irresponsável.

  • @AmBAr Amarelo, você acrescentou mais um elemento interesante para entender o comportamento da multidão histérica: eles talvez estivessem protestando contra a própria natureza animal deles, e encontraram em Geisy o bode expiatório sobre o qual descer o açoite.

    Quanto à história fictícia de Gérson:

    Primeiro, não se sabe se ele é neonazista. Na história que inventei, ele simplesmente se veste de modo provocador, não expressou verbalmente nem em ações ser neonazista. Os colegas é que chegaram a essa conclusão, preconceituosamente, sem antes conversar com ele.

    Segundo, mesmo que ele já tivesse dito antes que era neonazista, na história que contei ele não havia infligido a liberdade de ninguém, não havia xingado negros, não havia desrespeitado homossexuais e nem havia ofendido judeus. Ele mantinha suas opiniões para si e talvez para com seus amigos neonazistas.

    Terceiro, mesmo se ele tivesse se assumido neonazista, tivesse xingado negros, desrespeitado homossexuais e ofendido judeus, a pior forma de se reagir a isso seria através de um linchamento. A lei deste país tem cláusulas que consideram a discriminação como crime passível de punição.

    Um neonazista, uma puta, um bandido etc. são seres humanos antes de tudo, e qualquer linchamento é desumano, por mais prejudicial que um indivíduo seja para o resto da humanidade. Podem-se encontrar formas civilizadas de restringir as ações negativas das pessoas.

    Talvez eu esteja sendo utópico, mas se não houver utopia, fica mais difícil construir um mundo mais humano e universalista.

  • Com certeza Thiago, linchar o cara não seria o caminho nessa situação.
    Porém ignora-lo e respeitar o seu "direito" de ser neo-nazista (mesmo não praticante) é um ato de irresponsabilidade (ao meu ver).

    Se ele se vestiu assim apenas para provocar (mesmo caso da Geisy) ele teria a resposta do que procurou, ao ser vaiado e perseguido nos corredores. Se ele se vestiu assim por ser um neo-nazista, ele tem que ser combatido, de forma inteligente claro.

    Se a massa (que nos garante certo grau de anonimato) nos permite ataca-lo (verbalmente), que seja usada.

    Se a massa não se manisfesta, então de forma inteligente ele seja observado, informações sejam trocadas entre grupos que lutam contra o nazismo. E, no momento certo, com um conjunto de provas suficientes, ele seja desmascarado e denunciado a polícia federal.

    Um simpatizante desse tipo de grupo, que cultua e põe em prática o ódio e a violência, deve ser eliminado da sociedade.

    Não deve haver espaço para pessoas assim em nossa civilização.

Deixe uma resposta