Cotas raciais – parte 1
O Brasil está num impasse. A depender do resultado de discussões e votos nas instâncias governamentais brasileiras, poderemos ter mudanças radicais na forma como encaramos nossa identidade nacional, étnica, racial e cultural. Isso por que estamos às voltas de uma difícil polêmica sobre a proposta de se implementar as cotas raciais nas universidades do Brasil.
A recente audiência no Supremo Tribunal Federal trouxe à baila um discurso controverso, proferido pelo senador Demóstenes Torres, em que defende as cotas sociais (voltadas aos pobres de qualquer identidade racial) temporárias e em que fez duas afirmações armadas de dinamite: que a escravidão foi corresponsabilidade dos africanos; e que as relações sexuais entre senhores brancos e escravas pretas foi mais consensual do que se pensa. A dinamite explodiu em todos os lados…
Guerra discursiva
As duas reações básicas opostas que se viram nos meios de comunicação, jornais impressos e televisivos, blogs etc. são emblemáticas de uma postura maniqueísta adotada por quase qualquer um que se meta no debate sobre as cotas raciais no Brasil.
De um lado, os defensores das cotas argumentam que os negros precisam de uma compensação por uma desvantagem histórica. Outro argumento é que o racismo dificulta o acesso de negros à universidade, o que explicaria o número reduzido de “afro-descendentes” na Academia. Para os defensores das cotas, é preciso distribuir as pessoas na universidade numa proporção equivalente à distribuição racial do Brasil.
De outro lado, aqueles que são contrários às cotas raciais argumentam que no Brasil não existe impedimento do acesso de pessoas negras às universidades. Se há menos negros na Academia, é porque a maioria dos negros é pobre e só tem acesso ao ensino público, que é de má qualidade, e portanto não consegue se qualificar para o vestibular. Segundo os contrários às cotas, estas seriam uma forma de instaurar uma segregação racial que o Brasil não conhece.
Enquanto os primeiros acusam os segundos de ser “negacionistas”, de negarem que existe racismo no Brasil, a contra-acusação é de que os defensores das cotas são “racialistas”, ou seja, pretendem institucionalizar a divisão da população em raças. Ambos os lados acusam o outro de racismo.
Além disso, em geral se representa a defesa das cotas raciais como atrelada à esquerda política, enquanto a oposição a elas é pensada como tendo uma ligação com a direita. Em geral, as manifestações dos pró-cotas sobre os anticotas se imbui da acusação de direitismo, conservadorismo e elitismo. Os anticotas muitas vezes acusam os pró-cotas de radicalismo e atribuem esta característica a uma cumplicidade entre os movimentos sociais, predominantemente de esquerda.
A configuração desse conflito discursivo é tal que os dois lados se posicionam de maneira extremamente maniqueísta (e a própria existência de “dois lados” e não três ou mais é já uma consequência desse maniqueísmo).
De modo que, voltando ao pronunciamento de Demóstenes, vimos que a maioria dos que são pró-cotas demonizaram sem meios-tons o senador do DEM, enquanto a maioria dos anticotas louvaram a perspicácia e relevância de suas observações para combater a ideia das cotas raciais.
Em suma, numa cena típica desse embate épico, mais uma batalha repete o mesmo esquema de todas as outras: um dos lados se recusa a ver os elementos racionais e relevantes do pronunciamento de Torres e o outro lado não consegue ver os elementos absurdos e preconceituosos desse discurso.
Vítimas e algozes
Qual o sentido de se trazer à discussão, como o fez Demóstenes Torres, o fato histórico segundo o qual a escravidão negra começou na África e foram os africanos escravizadores quem venderam mão-de-obra também africana aos europeus que iam colonizar as Américas?
Alguns rechaçaram a afirmação de que os africanos foram corresponsáveis pela escravidão negra na América. Outros consideraram essa questão irrelevante para a discussão sobre as cotas raciais, pois entendem que o fato de negros terem vendido negros não diminui em nada o estado de sofrimento daqueles que vieram nos porões dos navios negreiros e seus descendentes.
É bem provável que Torres tenha se equivocado em sua intenção de relacionar o mercado africano de escravos com a questão racial no Brasil. No entanto, lembrar que havia africanos escravizadores e africanos escravos é importante para mantermos em mente que não devemos naturalizar a condição de vítima dos negros nem a condição de algoz dos brancos.
Entretanto, Torres foi realmente infeliz quando disse que as relações sexuais entre senhores brancos e escravas negras eram mais consensuais do que pensamos. Ele deixou de considerar que a violência pode ocorrer mesmo sem o uso da força física. Qual é a mulher que vai se negar a se deitar com seu dono, se ela sabe que será castigada se não obedecer? Ou que verá seus filhos castigados? A única escolha que ela teria para não sofrer (tanto o estupro quanto o castigo lhe trariam sofrimento) seria fugir e se aquilombar. Mas talvez os riscos fossem maiores (e é possível que, mesmo a maioria dos escravos querendo se libertar, a minoria o tentasse, por medo das consequências).
Mas o senador não errou somente por deixar de ver que há violência no aparente consentimento do dominado. Ele errou também porque sugeriu, talvez sem ter essa intenção, que os negros se resignaram à condição de escravos, deixando implícita a ideia de que eles são naturalmente servis, naturalmente menos independentes do que os brancos, naturalmente inferiores. E tudo isso ressoa o imperialismo europeu que construiu uma elaborada imagem dos orientais (ver o livro Orientalismo, de Edward W. Said), dos negros africanos e dos índio americanos, segundo a qual eles necessitam da tutela dos brancos civilizados para darem o melhor de si (não para si, mas para a civilização branca).
Cotas raciais vs. cotas sociais: um falso dilema
O pronunciamento de Demóstenes Torres não se resumiu a isso, claro. Ele apresentou argumentos a favor da cotas sociais nas universidades, enfatizando também que elas seriam temporárias. Isso tendo em vista a necessidade de melhoria do ensino público, esta sim a melhor forma de se distribuir equitativamente a população nos corredores das faculdades.
Porém, Torres se coloca uma questão que cria uma falácia lógica que a maioria das pessoas não percebe. Ele pergunta qual é a melhor opção: beneficiar os negros ou beneficiar os pobres de qualquer identidade racial? Colocando essa pergunta, ele força a audiência a se limitar a duas opções, e escapa do seguinte questionamento: será que as cotas, sejam de que tipo forem, são uma boa ideia?
(Em alguns casos são, quando o critério das cotas é um obstáculo direto ao acesso. Por exemplo, se nas entrevistas para um emprego há uma clara discriminação daqueles que têm pele escura, independentemente de suas qualificações profissionais, as cotas são uma forma de forçar os empregadores a abolirem a discriminação racial dessa seleção.)
Mas, enquanto os pró-cotas insistem na necessidade das cotas raciais, os anticotas não apresentam ao governo nenhuma proposta mais ousada para erradicar o racismo. Continuam defendendo a bandeira (com a qual concordo) do ensino público como a solução desse problema, sem no entanto vermos uma proposta concreta para implementar essa mudança.
Problemas do “negacionismo”
O título do livre de Ali Kamel poderia ter sido melhor escolhido: Não somos Racistas. No miolo, ele afirma que existe racismo no Brasil, mas nega que exista segregacionismo e defende que há um traço em nossa cultura que se caracteriza pela condenação do racismo e a aceitação da mestiçagem. Porém, o título do livro acaba refletindo a acusação do lado oposto, ou seja, dos pró-cotas, aos anticotas, de que estes negam que existe discriminação e preconceito raciais no Brasil.
Miriam Leitão, defensora das cotas raciais (o que me surpreendeu, pois esperava que na Globo todos fossem contra as cotas raciais, o que além disso mostra que a dicotomia pró e contra cotas não coincide necessariamente com a dicotomia “esquerda/revolucionário” e “direita/conservador”), faz uma crítica bem interessante aos “negacionistas”, em seu artigo Destruir a Obra, publicado no site d’O Globo:
Diante de qualquer proposta para reduzir as desigualdades raciais, principal obra da escravidão, aparece alguém para declamar: “Todos são iguais perante a lei.” E são. Mas o tratamento diferenciado aos discriminados existe exatamente para igualar oportunidades e garantir o princípio constitucional.
Ou seja, os “negacionistas” apelam para uma suposta “democracia racial” ou “harmonia entre as raças”. Clamam para que nos lembremos que somos uma nação mestiça, que temos uma cultura de misturas. Realmente temos uma cultura miscigenada e também costumamos nos orgulhar disso, mas clamar esse ideal em alto e bom som é uma forma de abafar a verdade de que se trata ainda de um ideal não totalmente incorporado. Vivemos num país racista e ainda representamos os não-brancos como tipos exóticos em meio aos caucasianos “normais”.
Além disso, quando exclamam que nossa Constituição é universalista, esquecem-se de se perguntar se esse universalismo realmente se aplica na prática de uma população que mal sabe ler e interpretar a Carta Magna e que sofre a exploração de quem sabe lê-la e manipulá-la. Embora sejamos iguais perante a Lei (isso quando conseguimos chegar diante dela, que o diga Franz Kafka), há muitas situações cotidianas que mostram a discriminação racial (é só prestar atenção).
Dessa forma, embora apresentem argumentos consistentes para se opor às cotas raciais nas universidades, colocando em questão o obstáculo da desigualdade social, falta aos “negacionistas” uma ousadia maior na crítica ao racismo e na busca de melhores soluções para sua erradicação, que vão além da necessária reforma do ensino público, e que passa por questões relativas à autoestima de uma população que tem como modelo de beleza e inteligência um tipo europeu.
Problemas do “racialismo”
As cotas raciais pressupõem que os candidatos ao vestibular deverão se identificar quanto à sua “raça”. Isso implica em:
- Contrariar a lei democrática segundo a qual todos os cidadãos têm os mesmos direitos, sem discriminação de qualquer tipo, inclusive a racial. Acaba-se ignorando que a pressuposição de que existem raças humanas é o principal sustentáculo do racismo;
- Contrariar a tendência brasileira a diluir as identidades raciais, o que ocorre de diversas formas, seja na criação de uma miríade de identidades mestiças (mulatos, caboclos, moreninhos, sararás, cafuzos, japas), seja na representação segundo a qual o “negro rico” é “branco”. Nisso, a discriminação racial se manifesta de muitas formas, com várias nuances e graus, não só na mera dicotomia branco vs. negro;
- Tender a esquecer que as desigualdades no Brasil têm mais a ver com questões sócio-econômicas do que raciais. Um pobre branco é muito mais discriminado do que um rico negro. (Porém, temos que admitir que, provavelmente, um pobre negro é mais discriminado do que um pobre branco.)
Outro problema dos argumentos pró-cotas é a noção de “dívida histórica”. Esse conceito encontra raízes na Lei de Talião, que é a epítome da ideia de justiça, ou seja, qualquer perda deve ser paga por alguém na mesma moeda e na mesma medida, um olho arrancado por um olho arrancado, o sangue do assassino (nem que seja de alguém de sua família) pelo sangue que ele derramou.
Essa ideia antiga é retomada por cristãos que esquecem de uma revisão trazida por Jesus de Nazaré sobre a Lei de Talião: o perdão. Uma sábia frase atribuída a Mohandas Gandhi mostra o absurdo de se clamar porjustiça:
Olho por olho e o mundo acabará cego.
O que não significa se resignar com os crimes cometidos. Há desigualdades sociais que devem ser reparadas sim, mas não em nome de uma “dívida histórica”, não se entre os que devem pagar estejam brancos tão carentes quanto os negros pobres.
É preciso olhar para o presente, conhecer a atual situação de desigualdade social em nossa sociedade, para tomar uma decisão tão importante quanto é a implantação de cotas raciais, que poderá provocar outros tipos de prejuízos além do racismo que já existe. Luís Fernando Dias Duarte me inspira neste sentido:
toda política compensatória por reservas étnicas é antiuniversalista e apunhala no coração as esperanças de implantação de um regime verdadeira e amplamente democrático em nossa nação. […] Certamente seria rico, por exemplo, discutir a falácia de uma compensação “histórica” (se considerarmos que o argumento central é o da real e continuada exclusão social sofrida pelos escravos africanos e seus descendentes) que acaba, no entanto, centrada num critério fenotípico e não de “descendência” histórica efetiva.
En garde… touché !
Sou contra as cotas raciais. Mas isso não me impede de tentar ver as falhas dos argumentos dos anticotas e não concordar com tudo o que vem deles. Nem de procurar os pontos acertados do discurso pró-cotas.
Vi essa atitude desaguerrida em poucos lugares. Um deles foi num artigo bem ponderado de Gilson Rodrigues, em seu blog recém-nascido Meritocriticando. Gilson é a favcr das cotas raciais temporárias, mas isso não o impede de tecer críticas aos dois lados do debate, e com bastante cuidado, ao meu ver.
Porém, o que apresento aqui é um resumo rasteiro da questão das cotas raciais, com ênfase na análise (também muito resumida) do debate e da guerra discursiva que se forma em torno dela.
Na próxima parte, discorrerei mais sobre porque sou contra cotas raciais nas universidades e sobre problemas relativos ao vestibular e à própria função social da Academia.
[Continua…]
Links
Debate entre colegas no Blog do Edmilson Lopes
Seguem abaixo alguns links, em ordem cronológica, de um debate entre alguns colegas do curso de Ciências Sociais da UFRN. Este meu artigo foi inspirado em parte por essa discussão (não deixem de ver os comentários):
- Mais sobre cotas para negros nas universidades (com artigo de Marcos Nobre)
- Flaubert Mesquita e as cotas
- Daniel comenta Flaubert que comentou Macos Nobre comentado por Reinaldo Azevedo
- Ainda as cotas: Flaubert retruca…
- A forca dos argumentos e os argumentos da violência (no blog de Cadu, Tesoura Social)
- E Cadu entra no debate…
- Ainda sobre cotas… Respondendo aos amigos e colegas… (no blog de Gilson Rodriges, Meritocriticando)
Outros links atuais
- contra a racialização do brasil (blog)
- Destruir a Obra, artigo de Miriam Leitão no jornal O Globo
- Escolha de Sofia, artigo de Demóstenes Torres no jornal O Globo
- Pungente retrato do universalismo apunhalado, artigo de Luís Fernando Dias Duarte, no Scielo
- Senador Demóstenes Torres participa de audiência pública sobre cotas raciais, no site do Supremo Tribunal Federal
20 comments
Belo texto sobre o caos que se tornou o debate sobre as cotas no Brasil.
Também sou contra as cotas, mas nem por isso acredito que muitos dos argumentos "anti cotas" sejam válidos. Na minha visão, está é principalmente uma tentativa de se superar a deficiência clara do ensino fundamental e médio no país, introduzindo a força pessoas de baixa renda social e sem cultura alguma em grandes faculdades. Em alguns anos, será fácil de se observar o governo se gabando de uma grande quantidade de bacharelados vindos do ensino público.
Dentro desse pacote, o Governo consegue incluir outras milhares de discussões, que nada têm a ver com educação. A principal delas, os problemas raciais. Isso desvia o foco do que realmente devia ser discutido, a qualidade de todo o sistema educacional brasileiro, q é pior que o de governos muito mais pobres que o nosso.
Isso não quer dizer que devemos esquecer o racismo existente em nosso país.
Misturar os assuntos confunde o público, aumenta o atrito e não leva nada a lugar nenhum.
Um grande Abs!
DuzãoHB
Fantástico Thiago, estou bastante ansioso por ver seus argumentos, até agora os mais equilibrados que já pude ler contra as cotas "raciais"
@Duzão, seja bem-vindo à Teia Neuronial e obrigado pelas contribuições.
Pois é, a discussão se torna um caos, os envolvidos estão mais preocupados em vencer a guerra argumentativa e os dois problemas, tanto o racismo quanto o ensino público, continuam aí.
Realmente, o problema do acesso à universidade tem muito mais a ver atualmente com a qualidade do ensino público do que com o racismo. Retomarei isso com mais detalhes na próxima parte.
@Gilson, acho que temos um bom debate a ser construído em torno desse tema, fugindo dessa troca de acusações pessoais que não esclarece para ninguém, muito menos para os que estão discutindo, o que está em jogo.
Achei o argumento sobre a Lei de Talião algo importante a ser postado, tendo em visque q exigir justiça por qq "divída histórica" é cair em uma verdadeira e trágica "História sem fim", e que, ao contrário do filme de mesmo nome, não me parece que terá "um final feliz"… Senti-me, como deveria ser, provocado pelos argumentos que listou sobre os defensores das cotas… Falastes de uma tendência a diluição da identidades racionais através de expressões como as que referi anteriormente – moreninho – Bem, o complicador ai nao está na relação semantica e sim no peso simbólico… Pelo menos em minha experiencia de quase 17 anos em Natal… o uso de tal expressão tem mt mais a ver com "um politicamente correto", como se fosse mais educado usar "moreninho" do que preto ou negro… Qts vezes chegaram para mim ou meu pai (com a pele bem mais escura que a minha) e ao ouvirem-nos afirmando que somos negros, ou chamando um ao outro de NEGÃO… Dizem: "Voces nao são negros… Olha a cor da sua pele (para mim)" ou "Seus lábios e sei nariza são afilados" (para o meu velho)… O que é isso? Diluição? Creio q não…
Acho bem complicado a postura de militantes dos movimentos negros que se circunscrevem a discussão, limitando-a, a certa religião (de matiz afro, o que faz com que pessoas que se identifiquem como negras, mas sigam uma "crença de branco" sejam ignoradas, isto é, alvo de preconceitos…), ou tenhe q se vestir com roupas que remtam a um mítico passado africano… Uso dreads (aqueles cabelos rasta)… Claro q isto vai gerar certo impacto e incomodo, mas n estou preocupado simplesmente em afirmar isto como coisa de negro… Basta ver qts "rastas" brancos (mestiços? )vc encontra… (A maioria dos que conheço, por sinal)… Apenas, nas transformações da vida e na reinvenção do meu cotidiano… dentro de determinada trajetória que é social, passei a achar este tipo de cabelo mais bonito esteticamente… Claro q com isso contrario uma antiga "verdade" de que negro por ter "cabelo ruim" nao pode deixá-lo crescer… Incomoda? Sim? Q bom!!!
Com esse tipo de discurso inflamado por parte dos militantes dos MOVIMENTOS NEGROS findam por reproduzir um preconceito… e retomando a citação feita por Thiago… acabaremos, nesse caminho, todos cegos, aprofundando-do-nos mais ainda no "estado de guerra" hobbesiano… do qual tentamos sair, mas nunca conseguimos totalmente…
Continuo concordando com o fato de que a solução estaria na melhoria profunda da educação pública, muito longe de ser deficitária… Se assim o fosse estaria mt melhor… Porém, como dizia Maquiavel… estou falando da "realidade efetiva das coisas", da urgencia imposta pela sociedade capitalista, que mesmo n gostando, temos de nos adaptar, em alguma medida… "Facilitar" a entrada na universidade teria esse caráter emergencial gritante… Gritante tb, como já disse em meu blog, é a força do "arbitrário cultural" sobre a auto-estima do preto pobre… Ah, e se a quantidade de dinheiro faz com que o branco pobre sofra mais preconceitos que o negro rico… a força do preconceito contra este último se reafirma, não? Enfim, n tenho respostas fechadas, e n quero mt perto de mim quem as tenha… POr isso, quero proximidade com vc, meu caro… alguem que aprofunda as perguntas… provocando… sempre… Abraços…
Thiago,
Parabéns pelo post! Considero este um tema muito complexo porque envolve uma série de questões que muitas vezes são conflituosas e até contraditórias entre si.
Sou pró-cotas, o quetambém não me impede, evidentemente, de concordar com muitos dos argumentos dos que são contra as cotas. Concordo, por exemplo, que na raiz do problema está o acesso à uma educação de qualidade. Discordo, no entanto, dos que acreditam que as cotas vão servir para racializar as relações sociais no Brasil, talvez por que eu não entenda raça como uma determinação biológica. A palavra raça, que provavelmete tem origem comum a palavra raíz, é muito mais antiga que o conceito biológico de raça inventado no século XIX, talvez um pouco antes, no XVIII. Eu entendo raça como uma construção cultural e dinâmica, cujos sentidos e significados variam e se transformam ao longo do tempo. Sob o meu ponto de vista, o Brasil já é um país racializado, sempre foi.
É comum ouvir comparações com os EUA, que teve uma história de escravidão em comum com o Brasil em muitos aspectos. Em geral compara-se a especificidade das relações “raciais” no Brasil a dos estados do Sul dos EUA, onde a discriminação contra o negro foi legal até o fim dos anso 50. São poucos os que lembram que a situação do negro nos estados do Norte, que assim como o Brasil, não conheceu leis raciais. Lá, como aqui, a discriminação se dá a partir das praticas sociais, na seleção para uma vaga de emprego, na recusa a alugar um imóvel, entre outras. Não foram as leis raciais, já que elas não existiam no Norte, que induziram a formação de bairros negros em Nova Iorque ou Boston, e sim a precária situação econômica dos negros, que os impedia de morar em bairros melhores. Nas grandes cidades brasileiras também existem bairros de negros e bairros de brancos. Só não existe a placa.
Muitas pessoas defendem a adoção de cotas sociais, com toda razão, mas as cotas para quem se declara negro ou indígena tem um significado diferente. Não deixa de ser social, evidentemente, mas tem por objetivo acelerar a ascenção de mais brasileiros negros à classe média e a formação de negros em áreas onde sua presença é muito pequena ou quase insignificante, como a Medicina, a Engenharia, e tantas outras. O que aqueles que defendem as cotas pretendem é que o Brasil tenha uma classe média tão “colorida” como suas ruas. Claro que só garantir o acesso à Universidade não basta, é preciso dar condições para que o aluno continue no curso até o fim. Para isso, aprovar ajuda financeira ao estudante com dificuldades para se manter é fundamental.
Quanto ao ensino público brasileiro, bem, é uma tragédia. Apesar das melhorias significativas apontadas pelos índices do MEC em quase todos níveis, ele vai precisar melhorar muito, mas muito mesmo, para ser considerado ruim. É lembrar que só recentemente alcançamos a universalização do acesso ao Ensino Fundamental. Hoje, segundo estatisticas do MEC, 97% das crianças dentre 6 e 12 anos estão na escola. Mas esses números não são motivo de comemoração. Metade dos estudantes brasileitos deixa a escola antes de terminar o 9º ano do Ensino Fundamental (antiga 8ª série), e só uma minoria,entre 20% e 30% conclue o Ensino Médio. Estes são os privilegiados, que apesar das dificuldades, da precariedade da escola pública (e de suas próprias condições de vida), dos professores sobrecarregados e mal pagos, podem concorrer a uma vaga no Ensino Supeior. Se a realidade fosse outra não precisaríamos estar aqui discutindo sobre cotas.
Esse é um tema que não se esgota. Na verdade, teria muito ainda pra escrever, mas já precisei cortar várias partes desse comentário para deixá-lo um pouco menor.
Thiago, sou CONTRA as cotas RACIAIS, e vou além: sou contra a identidade racial no Brasil (que não seja a brasileira).
Gostaria de adicionar a discussão (por mais lenha na fogueira) que a própria idéia de "LIBERDADE-ANTE-ESCRAVISTA" é Européia (corrija-me se eu estiver errado). Tanto Europeus quanto Africanos possuíam seus próprios escravos. Porém estudos sugerem que até nos Quilombos havia escravidão entre Africanos de diferentes etnias.
Não que o senso de LIBERDADE , IGUALDADE e FRATERNIDADE seja exclusivamente europeu. Qualquer um que esteja preso terá senso de liberdade. Porém quem implantou isso no mundo foram eles!
Se hoje consideramos a escravidão como algo brutal é porque os europeus impuseram isso ao mundo (não que no desenrolar a História outra civilização não pudesse fazer isso).
Quanto ao fato das relações sexuais que desencadearam a miscigenação: Será que foram apenas estupros? Então todos os mestiços do Pará são frutos de índios estuprados? CLARO QUE NÃO!
Lembremos de um ditado popular: "A pobreza aproxima as pessoas". Agora imagine um sertanejo "português" esquecido nos desertos do nordeste, junto a ele uma negra "africana" compartilha de seu sofrimento (FOME, SEDE). Ambos não podem se apaixonar?
A grande pergunta: TODA MESTIÇAGEM BRASILEIRA FOI FRUTO DA VIOLÊNCIA?
É difícil de crer.
As cotas sociais teriam o mesmo impacto positivo que as raciais, com a vantagem de não promover a identidade racial, que, ao meu ver, é um negro se achar africano e um branco se achar europeu.
Quanto a dívida histórica eu pergunto: Mostrem-me os culpados!!
Negrinho da beija-flor é 80% europeu!!!! ele é 80% CULPADO!!
Todos os mestiços brancos são culpados? então a culpa é um fator aleatório.
Devemos buscar o ideal de um país onde a mistura seja algo positivo e a negação à mistura seja algo terrivelmente negativo. E para que isso ocorra devemos acabar com essa mentira de identidade racial em um país mestiço.
Ambar Amarelo,
…mas a nossa "identidade mestiça" também foi forjada, inventada.
Ao longo do século XIX e início do XX a História do Brasil se aproximou e se afastou várias vezes desse ideal. Um concurso realizado em 1843 pelo recém criado IHGB _ Instituto Histórico e Geográfico do Brasil, sobre "Como escrever a História do Brasil" teve como vencedor o alemão (bem, a Alemanha não existia ainda)Von martius e sua tese de que a História do jovem país deveria ser escrita a partir das contribuições dos europeus, dos indígenas e dos africanos. E a mistura entre estes povos, na obra de Martius, deveria ser entendida como constitutiva da formação do "povo do Brasil". Não que Von martius visse alguma coisa boa nisso, pelo contrário. Suas anotações descrevem o indígena como um povo intelectualmente incapaz e degenerado. Suas referâncias ao negro, especificamente em relação a força física, são memos pejorativas, mas a mestiçagem, independente se do branco com o índio ou com o negro, era considerada um fator de enfraquecimento da "raça", de degeneração. Outros autores, posteriores a martius, também viam na mestiçagem a inviabilidade do Brasil como nação.
É claro que a sugestão do alemão não foi seguida pelos históriadores, mas de qualquer forma o índio acabou sendo alçado, em algumas circustâncias, como um "símbolo" do país.
O negro não foi vítima apenas da escravidão. Com a proibição em definitivo do tráfico negreiro e a constatação, pela elite escravista, de que a escravidão estava com os dias contados, o Parlamento criou a Lei de Terras. A partir dela, o único acesso legal á terra seria por meio da compra, e não pela ocupação pura e simples como se fazia até então. A preocupaçao é que depois de livres, muitos negros optassem por cultuvar suas proprias terras deixando os fazendeiros em dificuldade para conseguir mão de obra para a lavoura. Não foi pro acaso que as duas leis, a que proibiu o tráfico e a que criou a Lei de Terras, tenham sido aprovadas no mesmo ano, 1850. O mesmo se deu com a Grande Imigração, entre 1872 e 1930. Na escola aprendemos que ela foi necessária para suprir o páis de mão de obra,sobretudo com o fim do trabalho escravo. Isso não é verdade. O objetivo não era esse, já que o país contava com mão de obra exedente, formada, sobretudo, pelos próprios ex-escrevos. A questão era que o processo que levou à abolição foi tão lento, desgastante e, até mesmo, violento, que muitos fazendeiros simplesmente não queriam mais continuar com tendo os negros como trabalhadores, ainda mais assalariados. Uma carta entre fazendeiros do vale do Paraíba escrita por ocasião da lei Aurea ilustra bem esse sentimento. Na carta o remetente se sente expropriado de um bem: "…esse negrinho fui eu que criei, eu que vesti, eu que alimentei. Agora, para colocar ele na lida eu tenho que pagar? Pois eu não pago!" diz o fazendeiro indignado. O objetivo da imigração não era suprir a falta de mão de obra, mas substituir a existente. Ao negro sobrou como alternativa se submeter a sálários piores que os dos imigrantes ou rumar em direção ás cidades, formando as primeiras favelas. Outro objetivo era branquear o país. Branqueamento que, curiosamente poderia ser "acelerado" a partir de casamenteos entre negros e brancos, não para formar um país mestiço, mas para branquear os exitentes. Alguns, como Silvio Romero, chegaram a criar calculos para estimativas de que até o final do século XX não haveria mais negros no Brasil. Não sei que conta ele fez, mas errou feio.
Foi só a partir dos anos 20, depois de meio século de políticas de branqueamento, é que intelectuais brasileiros se voltaram novamente a tese de Martius. Mas não sem a resistência de muitos setores da elite letrada da época. Com a substituição dessa elite após a revolução de 30 essa idéia foi posta em prática.
É importante esclarescer que, apesar de muitos intectuais da época realmente acreditarem num país mestiço, a consolidação dessa ideia só foi possível porque servia a outros interesses. Movimentos negros pipocavam pelo Brasil e um deles, sediado em São Paulo, chegou a contar com cerca de 100 mil filiados. O objetivo desses grupos era um só, lutar pela ingualdade de tratamento com os brancos. A "invenção desse país mestiço" serviria para enfraquecer esses movimentos, aprensentano o Brasil como um país uno, onde todos são iguais.
Uma das estratégias foi subtrair elementos culturais dos negros transformando-os em brasileiros. O Samba, que era proibido, foi descriminalizado, deixando de ser música de "preto" para ser música nacional. A capoeira e os cultos Afros, também deixaram de ser crime e foram incorporados às representações nacionais, embora a marginalização dos cultos de origem africanas ainda sofressem restrições sociais várias decadas depois disso. Um dado curioso é que data dessa época a identificação de Nossa Senhora Aparecida como uma "santa negra", ou melhor, morena, representando as cores de todos os brasileiros. Até os anos 20 não se fazia relação entre a cor da imagem com um tom de pele. A eleição da Santa à Rainha e Padroeira do Brasil foi reconhecida por Getúlio vargas, o artífice de Brasil mestiço, o mesmo presidente que criou, na mesma época, o "dia da Raça", Um feriado nacional substituido depois pelo dia de Tiradentes.
Amigos,
Me desculpem pelos texto, estão horríveis, mas eu não tive tempo de revisar.
Olá Eduardo Prado, você tocou em um ponto importante: O fato de algo ligado a nossa identidade ter sido fabricada visando um Brasil ideal para as mentes do poder da época.
Não há como negar que a mestiçagem, fruto da segunda grande imigração européia para o sul e sudeste do país, foi sim utilizada para esbranquiçar a população brasileira que na época era aproximadamente mais de 80% negra (se não me engano).
E isso é sim vergonhoso, e não devemos esquecer isso, devemos refletir sempre sobre isso, principalmente nas escolas.
Mas em que ponto nós estamos hoje com relação a miscigenação e identidade racial?
Primeiro, nós temos um ideal a ser seguido: Buscar construir um país mestiço, onde diferentes etnias sejam facilmente incorporadas e diluídas à população. Por exemplo, no passado os Sírios e Libaneses, os Japoneses em São Paulo, e mais recentemente os vários chineses que estão vivendo no Brasil.
Note que não buscamos apenas dar um espaço físico para essas populações se isolarem em comunidades fechadas, nós facilmente as consideramos como brasileiros na medida em que eles se misturam tanto geneticamente quanto culturalmente. E isso não significa que estamos transformando Japoneses em Europeus, Nós estamos transformando a nossa própria população.
Nesse ideal, o qual eu apoio, é extremamente negativo a identidade racial: O brasileiro do sul se achar alemão, aprender a falar alemão e só querer casar-se com alemão. Isso não significa que devemos negar a componente internacional, festas tradicionais alemãs que ajudam a contar a história da imigração daquela população, são bem vindas. Como falei, essa mistura altera a nossa própria cultura.
Esse é um caminho que precisa ainda ser construído, basta lembrar que ainda temos o padrão europeu como o ideal cultural/estético. Porém isso aos poucos está mudando para um padrão mestiço: Música mestiça, Beleza mestiça, etc.. (temos muito que melhorar).
A identidade racial cria divisão, populações de latinos, populações de chineses, populações de africanos. Cada uma buscando dividir o mesmo espaço físico, APENAS!
Esse conceito é até hoje praticado nos Estados Unidos da América.
E o que pensam os poderosos do Brasil do século XXI ? o que eles querem forjar agora e qual será a conseqüência futura?
Amigos, o que estamos debatendo não trata-se apenas de dar acesso aos negros às universidades, pois isso seria resolvido com cotas sociais, Trata-se de uma ESCOLHA entre dois ideais: O da mestiçagem genética/cultural, uma terra e um único e plural povo, ou o da identidade racial, uma terra dividida entre diferentes povos.
Trata-se de uma ESCOLHA entre dois ideais: O da mestiçagem genética/cultural, uma terra e um único e plural povo, ou o da identidade racial, uma terra dividida entre diferentes povos.
É neste ponto, Ambar Amarelo, que eu discordo. Tdudo bem, o Brasil é reconhecidamente um país mestiço, genética e culturalmente (sobretudo culturalmente) e é muito difícil encontrar alguém minimamente sensato que discorde disso, mas em termos de oportunidades somos, sim um país dividido. Não entre povos, com exceção, talvez, das nações indígenas, com quem compartilhamos o mesmo território, mas entre pessoas com determinadas características exteriores, finopticas. O racismo, ou pelo menos as diferenças de tratamento de indivíduos ou sociedade para com determinados "grupos" não se dá com base na composição genética destas pessoas, mas na aparência física delas. Dizer que raças humanas não existem, apesar de verdadeiro, não apaga as "marcas" de origem, digamos assim. As sociedades em geralm atribuem valores positivos ou negativos a determinadas origens e características físicas. No caso americano, devido ao histórico da escravidão, a ancestralidade africana e indígena é extremamente desvalorizada, desvalorização que submete as pessoas que trasem as "marcas" dessa origem no corpo: Cor da pele, cabelo, nariz, etc… Essa "discriminação" nada tem a ver com a crença em raças biológicas, mas num dado cultuiral, que pode ser mudado, mas demora, e muito. É por isso que meu cérebro entre em parafuso quando tento entender os argumentos de pessoas como o Demétrio Magnoli que tentam relacionar o conceito de raças biológicas com o racismo brasileiro, uma coisa que nao tem nada a ver uma com a outra.
Históricamente falando é curioso observar o modo como as elites brasileiras encararam a mestiçagem da população. Curioso porque essa não é uma especifidade brasileira, mas americana. Excetuando-se talvez o Canada, que exterminou quase todos os habitantes nativos, em todos os países da América a população mestiça é demograficamente importante, quando não é a majoritária. O diferencial, no caso brasileiro, é que essa mestiçagem foi transformada num valor positivo, enquanto nos outros países ela permanesceu como algo negativo. Nos EUA issa mentalidade começou a mudar a partir dos anos 70, quando muitos estadunidenses passaram a precionar o governo para incluir nos questionários sobre "raça" a opção "multirracial". Mas é importante ressaltar que essa especificidade nacional é uma "invenção" construída e levada à cabo através do sistema de ensino e da orientação cultural para satifazer os interesses da elite dominante, com a intuíto de "apagar" as difereças e enfraquecer os movimentos reivindicatórias dos negros.
… e seguem is erros de digitação e os grosseiros erros de Português, ai, ai ai…
"O da mestiçagem genética/cultural, uma terra e um único e plural povo, ou o da identidade racial, uma terra dividida entre diferentes povos."
Eu aconselho "o mito das nações: a invenção do nacionalismo". E não vejo problema em ter uma nação com vários povos, isso é positivo e não negativo, é a diversidade tendo primazia sobre a opressão de uma cultura imperialista dominante… Quanto mais diversidade, melhor, isso apenas demonstra a riqueza e a capacidade de criação da mente huamana, é o nosso grande trunfo, não compreendo a razão ou necessidade de algo "uno".
David, Certamente uma nação harmoniosamente dividida entre vários povos tem sim seu lado positivo, principalmente quando existem verdadeiramente diferentes etnias formando vários povos (e elas convivem sem se matar).
O que não é o caso do Brasil, onde independente da composição genética existe um único povo e praticamente uma única cultura compartilhada (claro que há variações entre diferentes regiões do país). No Brasil, tanto o branco rico quanto o negro pobre escutam praticamente a mesma música, falam a mesma língua, seguem a mesma religião e possuem o mesmo senso de valores (claro, há exceções). Conseqüentemente formam uma única etnia (se for permitido usar esse termo dessa forma).
O que o poder atual prega é a separação, a identidade cultural, a super valorização de um passado cultural africano (até certo ponto mítico), que infelizmente não mais existe em nossa população e que, portanto, seria mais uma fabricação visando a divisão.
Quanto ao que você citou sobre:
"é a diversidade tendo primazia sobre a opressão de uma cultura imperialista dominante… Quanto mais diversidade, melhor"
Eu concordo com você em parte, e acrescento: A nossa busca pela mestiçagem é a busca pela diversidade, é abandonar o conceito e raça, etnia, DIFERENÇA e abraçar a diversidade, encarar o próximo como igual e não como "A OUTRA RAÇA QUE EU RESPEITO".
Nesse contexto, uma "cultura imperialista dominante" existe em países divididos entre diferentes etnias, vide os Estados Unidos da América, onde o anglo-saxão é considerado o verdadeiro cidadão e todo o resto são apenas exceções criadas para uma melhor convivência entre os diferentes povos.
Acho que eu poderia citar a África do Sul também, um outro país dividido entre diferentes etnias: Anglo-Saxão/Nórdico, Indiano, Asiáticos, AFRICANOS e alguns mestiços (os "coloureds"). Note que sempre existirá uma etnia dominante, e portanto, opressoras e "imperialistas".
A mesma coisa acontece dentro da própria África, vide o episódio ocorrido em UGANDA.
Sendo assim, é bem melhor um ideal que busque, não a divisão (e conseqüentemente competição) entre diferentes povos, mas sim, o desapego à raça/etnia.
E o que é a mestiçagem se não, o desapego à raça?
Amigos, um ponto que eu acho que fica confuso no discurso dos que apóiam as cotas, é a afirmação de que as cotas RACIAIS (e não as cotas sociais) são necessárias uma vez que a pobreza (e a riqueza) no Brasil tem cor. E que portanto, as cotas RACIAIS seriam um meio de acabar com a imagem negativa do negro, forçando-o a ascender socialmente, ao mesmo tempo em que é estimulada uma busca pela etnicidade africana que supostamente existe na grande massa dos negros (que em sua maioria esmagadora são PARDOS, portanto, mestiços).
Basicamente é dito que o Brasil é um país dividido entre etnias/raças e que as cotas raciais são um mecanismo de LUTA/JUSTIÇA da raça dominada contra a raça dominante.
Amigos, qual é o adjetivo que nós damos aos discursos que misturam verdades com mentiras visando ludibriar a opinião dos menos atentos? SOFISMA!!!
SIM É VERDADE que, no Brasil, a pobreza e a riqueza tem cor. Portanto, são aceitáveis (e necessárias) medidas para acabar com isso. Uma dessas medidas seriam as COTAS.
MAS É MENTIRA que as cotas RACIAIS são necessárias no lugar das SOCIAIS. Com exceção da indígena (como bem lembrou Eduardo Prado) NÃO EXISTEM DIFERENTES ETNIAS NO BRASIL! Os AFRO-BRASILEIROS na verdade são PARDOS/Mestiços como qualquer outro brasileiro.
Eis aí o 'Xis' da questão!
(…)portanto, as cotas RACIAIS seriam um meio de acabar com a imagem negativa do negro.
Ambar, desculpe por recortar a frase acima dirando-a do seu contexto original, mas é essa a idéia para quem, como eu, defende a adoção de cotas "raciais" em alguns casos. No caso eu não entendo raça como um conceito biológico, mas como uma construção cultural. Mas indo por essa idéia de preconceito de classe, ou preconceito social, vou aproveitar para citar uma passagem do livro do Ali Kamel, diretor do jornalismo da Rede Globo.
Um dos argumentos do Ali Kamel no seu (infeliz)livro "Não Somos Racistas" para explicar as agressões desferidas por autoridades policiais (na verdade por toda a sociedade)contra brasileiros negros é de que eles estariam sofrendo preconceito não por serem negros, mas por serem confundidos com pobres _ pois é, para ele o brasileiro tem preconceito contra o pobre, não contra o negro. Fico tentando imaginar então porque o negro pobre é discriminado pelo branco pobre, já que muitas vezes são até vizinhos. Ele cita como exemplo o caso de um jovem dentista desarmado) que foi assassinado pela polícia após ter sido confundido com um assantante. Os políciais chegaram ao extremo _ extremo para mim, para você, mas essa deve ser a rotina _ de colocar alguns pertences do assaltado, no caso um homem bramco que a polícia reconheceu como a "vítima" no bolso do jovem dengtista. A familia da verdadeira vítima, que perdeu a vida nas mãos da policia, não aceitou a versão policial _ o pai do rapáz era policial aposentado e conhecia muito bem como eram fabricadas essas histórias _ , mas o caso so foi esclarecido quando o homem branco, de quem a polícia tomou as dores e assassinou um negro que passava no hora errada no lugar errado para dar-lhe alguma satisfação, procurou a delegacia para contar o que realmente aconteceu. Mas espeou tres dias para isso. Neste caso, como em muitos outros, a palavra de um branco vale muito mais que a de um pai negro. Pois bem, para o Kamel, os políciais não assassinaram o dentista por que ele era negro, nada disso, mas porque acharam que ele seia pobre. Pelamordedeus! Seria um argumento ingênuo, se não estivesse revestido de MUITA má fé.
O problema não é a classe a qual uma pessoa pertença, mas os recursos (culturais, intelectuais e mesmo financeiros)que ela tem a disposição para exercer sua cidadania. É a percepção de que se está diante de um João Ninguém, um Zé Povinho, de alguém que não importa, é que motiva a discrinação, muitas vezes até de forma violenta. Por isso eu acredito que se pretendermos construir uma nação mais justa e "unida", precisamos acelerar a formação de uma classe média (digo classe B) negra, com mais dentistas, médicos, engenheiros e cientistas não-brancos.
Minha querida, esta é também uma contribuição às discussões sobre as cotas raciais na universidade