Planeta dos Macacos (2001)
Antes da homenagem e prequência prestada por Rupert Wyatt (Planeta dos Macacos: A Origem), Tim Burton lançara em 2001 sua versão heterogênea de Planeta dos Macacos (Planet of the Apes, 2001), ignorando quase totalmente a cronologia dos filmes originais iniciados por Franklin Schaffner em 1968 (O Planeta dos Macacos), mas amarrando (um tanto frouxamente) certos pontos para deixar a história parecida com a do antigo filme homônimo.
O filme de Burton não merece uma resenha prolongada. Ele é muito mais uma simples homenagem do que um bom filme (aliás, não é um filme muito bom). Assim, para quem conhece a quintilogia, as referências vão fazer soar o lado nerd dos fãs, mas nada que torne a homenagem digna de uma nota alta. Porém, ele vale a pena ser visto por outros motivos, como se verá a seguir.
Título: Planeta dos Macacos (Planet of the Apes)
Diretor: Tim Burton
País: EUA
Ano: 2001
Para este que vos resenha, o maior mérito do Planeta dos Macacos de Burton, em termos do que ele representa para si mesmo, é a maquiagem do filme. Os atores que interpretam chimpanzés, gorilas e orangotangos o fazem muito bem e suas máscaras são bem convincentes (exceto no caso de algumas fêmeas que muito parecem humanas).
Nesse quesito, penso que Burton supera muito Schaffner e os produtores dos filmes originais (considerando, claro, que a maquiagem dos filmes originais era muito bem feita e representava o melhor que se podia fazer à época). Especialmente, Burton fez uma maquiagem melhor no que se refere à semelhança dos macacos fictícios com os macacos reais. Os orangotangos de Schaffner e cia. por exemplo, mais parecem chimpanzés loiros, enquanto o filme de 2001 mostra as três espécies muito bem caracterizadas e distintas.
Em termos gerais, a história de Burton coincide em alguns momentos com a de Schaffner. Há um astronauta que se perde no futuro e encontra um planeta onde macacos dominam humanos. Estes são caçados por gorilas montados em cavalos e enjaulados em carroças. Há uma sociedade símia complexa que considera que os humanos são animais inferiores sem alma. Além disso, a espécie humana é considerada extremamente perigosa, que precisa ter seus impulsos destrutivos domados e refreados. Existe um segredo cuja revelação pode desconstruir toda a crença na superioridade dos macacos, e toda evidência desse segredo é ocultada pelo antagonista (num caso, um orangotango que é ministro da Ciência; no outro, um chimpanzé que é um líder militar). Há uma chimpanzé que desafia a autoridade omissora e se alia ao protagonista humano, que consegue escapar do cativeiro e fugir do mundo dos macacos. No final, ele se depara com um símbolo da sociedade norte-americana violado pelas circunstâncias da trama.
O principal, no entanto, são os easter eggs, como certas frases subvertidas em seus contextos. Enquanto Taylor, personagem de Charlton Heston, brada para um gorila que o captura:
Take your stinking paws off me, you damn dirty ape!
[Tire suas patas fedidas de mim, seu maldito macaco sujo!]
Um gorila grunhe estas palavras para Leo Davidson (interprerado por Mark Wahlberg):
Take your stinking hands off me, you damn dirty human!
[Tire suas mãos fedidas de mim, seu maldito humano sujo!]
A cena antológica final da obra de 1968 traz a frase que ecoa até hoje:
Damn you! God damn you all to Hell!
[Malditos sejam! Malditos sejam todos vocês!]
Charlton Heston aparece no filme de Burton como um velho chimpanzé moribundo, e repete quase as mesmas palavras, referindo-se aos humanos:
Damn them all to Hell!
[Malditos sejam todos eles!]
Finalmente, entre outras coisas (para não me prolongar desnecessariamente), há a cena do beijo inter-racial entre Taylor e Dra. Zira (que não gosta muito da ideia), parodiado na cena de Davidson e Ari (que parece ter esperado, junto à expectativa dos espectadores, durante todo o filme por isso).
Ele também é um filme que tematiza a compreensão das diferenças e o respeito ao outro, mais explicitamente do que no filme original. Os humanos são vistos pelos macacos como animais, e a cena da menina humana engaiolada chorando diante de sua dona, uma menina chimpanzé contente com seu bichinho de estimação, nos faz pensar o que sente um macaquinho ou um passarinho numa gaiola. Da mesma forma, o orangotango Limbo, comerciante de humanos, experimenta a dor de ser algemado, o que contraria sua afirmação de que as algemas não machucam os humanos.
Para além de um manifesto contra a violência aos animais, essa história é um libelo pelos direitos humanos. Os macacos escravizam homens e mulheres humanas para que os sirvam como empregados, não como cães-de-guarda, o que remete à escravidão praticada entre humanos. Estes não são animais irracionais, pois pensam como os macacos inteligentes, “têm alma” (para contrariar a crença do general Thade) e deveriam merecer um lugar igual ao das três espécies dominantes de macacos.
Porém, o que fica aparente ao final é que os próprios humanos são superiores, capazes de se guiar pela razão, contornando crenças e tradições estagnantes, o que os macacos só conseguem fazer com dificuldade. Mas talvez a mensagem seja a de que os oprimidos conseguem vislumbrar mais facilmente uma realidade diferente e melhor para si, enquanto os opressores, confortavelmente instalados no topo, não têm motivos para querer mudar. Nisso humanos e macacos são iguais e, é bom lembrar, não é à toa que humanos são uma espécie de macaco.
2 comments
Rapaz, assisto sempre que reprisam os macacos do Tim Burton, mas, não sei porque, continuo não gostando… Gosto desgostando, sabe? Pois é… Detesto o excesso militarista, a visivelmente de estúdio aldeia dos gorilas (enquanto no original era construída em estúdio de locação), os exageros corporais do Tim Roth… Não gosto, mas assisto, ré, ré! Gosto muito do Tim Burton! E também gosto muito do que escreves, meu amigo: encerraste o texto com perfeição! Meu abraço! E lembranças à sumida Inês!
Eu sempre sou do contra, gosto de filmes que o povo odeia. Este é um exemplo, assim como GI Jane e o segundo filme de Arquivo X. Acho que cada um conseguiu cumprir seu propósito.
Este Planeta dos Macacos me fez gostar da franquia, que antes eu achava um saco. Engraçado, né?